Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, junho 01, 2005

Profissão pidão

No dia 25 de maio eu postei:

"A situação fica sob controle até q... SEMPRE acontece isso. Entra um senhor negro de cabelos brancos dentro de um terno q, de tão azul, deixaria a Velha Guarda da Portela com inveja. "Aleluia! Jesus os abençoe. Estou aqui pedindo esmola! Um centavo serve! Aleluia e Jesus os abençoe". O cara não conseguiu sair do lugar, mas repetia "Aleluia, Jesus os abençoe" como um disco quebrado. Uma, duas, três, quatro..."

Pois é, ontem adivinha quem encontrei no trem? O próprio. Dessa vez pude prestar atenção com mais cuidado. Ele não usava o terno azul da outra vez, era um verde água. Sobre o braço direito carregava uma pequena bíblia e colocava a mão esquerda na frente da boca, como se fosse um tipo de megafone primitivo para aumentar (ou não) ou volume da sua mensagem, basicamente a mesma do outro dia.

O tio ficou por três estações no vagão sem parar de falar um minuto. "Aleluia! Jesus os abençoe. Estou aqui pedindo emola!. Um centavo serve! A esmola está no Novo Testamento!". Mas peraí, isso quer dizer q eu tenho q dar esmola obrigatoriamente? O tio, empolgadaço, falou q era aposentado, que tinha filho, q tinha neto. Mas continuava lá, "eu tô pedindo esmola".

Cara, fala sério. Pedir esmola é solução pra quem? O cara vai pedir esmola pra sempre? Mesmo pobre ele não disse em momento algum q estava passando fome, q precisava comprar remédio. Nada. Só deu a entender q dar esmola era obrigação pq tava na Bíblia, sei não, hein. Querer ser esperto assim já me soa perto do cúmulo do absurdo.