Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sexta-feira, outubro 24, 2008

Informo desde já que desisto de ser tratado como coisa pela SuperVia, a empresa responsável pelos trens metropolitanos no Grande Rio.

Ontem, voltava do Maracanã de trem após o jogo em que o Flamengo ganhou do time dos alemães curitibócas. Optei pelo trem, a ser tomado na estação Maracanã, pois seria a opção mais rápida de retornar a Bangu em uma noite de quinta-feira, já que sexta-feira é dia de expediente também.

Uma molecada comemorava ainda, cantava músicas de forma ostensiva e bem desencontrada desde lá. Chegando a estação Deodoro, talvez quinze paradas após a Maracanã, jogaram gás de pimenta dentro dos vagões para, ao que parece intimidar os moleques. Pois é, jogaram gás de pimenta em um vagão inteiro por causa de três ou quatro sujeitos. O que a segurança da SuperVia pensa da vida?

Em lugar de um deles ir lá desenrolar diretamente com os meninos optaram por fazer isso com dezenas de outras pessoas que nada tinham a ver? Parece até piada, mas um grupo de quatro senhoras que vinham ao meu lado ficaram roxas por não conseguir respirar. Minhas vias respiratórias e os olhos ficaram ardidos. Eu só queria uma forma rápida de voltar pra casa. E ainda me chamam “cliente”, né?

Some-se a isso o fato de nunca darem informação em tempo hábil para tomada dos trens rumo a Bangu na Central do Brasil, onde o passageiro fica sendo jogando de uma plataforma para outra, seguindo os avisos que apontam hora e de onde sairá a composição.

Some-se a isso o fato de que, recentemente, quando um trem descarrilou na altura de Madureira e eu, com hora pra chegar em Realengo, fiquei ouvindo o sistema de som da estação do Méier, no caso onde a composição onde eu estava parou, pedir insistentemente que os senhores passageiros continuassem dentro dos vagões. Após vinte minutos desisti e tomei um táxi, depois disso vi que a operação para por o trem nos trilhos de novo demorou horas.

Some-se a isso também o dia em que passei mal, peguei um trem para ir pra casa e acabei descendo e desmaiando na estação Engenho de Dentro, a pressão deve ter caído e com ela lá fui eu abaixo, sob um sol sinistro pq desci fora da cobertura. Seguranças viram o Vicente estatelado num banco de concreto, olharam, olharam, olharam e eu sem forças sequer para fazer um sinal feio para os imprestáveis. Ok, eles estão lá para cuidar do patrimônio da empresa e só isso.

Cansei de ser tratado como coisa por essa empresa que tem um lucro infindável com o transporte de massa na cidade. Vou escrever uma carta para a Ouvidoria da empresa, se é que isso existe.
Ah, os Malvados...














Peguei no http://www.malvados.com.br/.
Ser mané é

Ir ao ponto do 1132, escolher ir no frescão, que custa singelos R$6,50 pela passagem. Subir no coletivo, ir dormindo como um neném naquele poltronão e... ser acordado em Irajá com o ônibus parado na faixa seletiva porque o motor quebrou. Pior, ter que descer do ônibus parado na pista seletiva, enquanto carros, caminhões e demais veículos passam zimpando a poucos metros de você para esperar o próximo 1132. Após alguns minutos, subir naquele ônibus que você esnobou lá no ponto final, que é um pouco mais simples que o frescão e ter que ir de pé, porque ele já sai do ponto final cheio.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Sonho de criança

Há pouco realizei um sonho de moleque. Fui ao estádio Centenário, em Montevideo. Lá, em no dia 23 de novembro de 1981, a equipe comandada pelo Zicão conquistou a Libertadores. Eu era uma criança de cinco anos cujo pai americano e a mãe tricolor cagavam baldes para o título. Hoje em dia, já um marmanjo feito, fui lá pra pagar essa dívida comigo mesmo.


Eu voto nulo

Não vejo em Paes ou em Gabeira sujeitos capazes de dar a moral que minha parte da cidade merece. Alguns amigos disseram que caí na discussão simplista de que Gabeira não gosta do subúrbio ou de suburbano. Balela, desde o início das campanhas vejo no discurso do candidato Gabeira uma postura naturalmente elitista. O verde fala para a classe média, pondo em pauta principalmente a questão da segurança pública. Ok, boa sacada para chamar atenção para seu discurso, mas entendo que a segurança pública não está na conta do grande síndico que é o prefeito e não vejo nele propostas ou mesmo uma visão de cidade capaz de sanar problemas concretos para a parte da cidade onde vivo. E mais, não confio no discurso transparente daquele que é deslavadamente o candidato dos grandes veículos de comunicação. Pode parecer aquela velha história da teoria da conspiração, mas opto por não votar no verde e nem no Paes.
Coisificação

Dia desses estava no ponto do 1132, o ônibus que substituiu no meu cotidiano o famigerado 393. É mais caro, mas opto por meter a mão no bolsinho, ficar menos tempo na fila e ir pra casa babando sob um, as vezes, congelante ar-condicionado, e tendo sonhozinhos. Pode-se dizer que o ponto do ônibus, o Terminal Menezes Cortes, no Centro do Rio, é o mais perfeito mafuá. As filas para diferentes ônibus se cruzam, uma passa por dentro da outra e só não dá confusão por conta da boa vontade das pessoas. O lugar pertence ao governo fluminense, está ligado à Coderte, mas é um ambiente ridículo, fica embaixo do edifício garagem que recebe o mesmo nome do terminal e tem infra-estrutura alguma. Os motoristas, ao saírem dos seus ônibus, dão singelas mijadinhas nas rodas dos coletivos, pelo lado da pista.

Esse era o quadro cotidiano, o simpático caos carioca na hora do rush. A fila estava lá, com todos de pé a espera da condução quando um barulho seco veio da fila ao lado. Um sujeito caiu. Simplesmente caiu pálido, com a camisa aberta até o meio do peito, de calça e sapatos, tinha o aspecto de ser um trabalhador normal.

Duas pessoas estavam com ele. Um senhor e uma moça. O senhor deu tanto tapa na cara do sujeito estatelado, mas tanto tapa que fiquei assustado. O esforço a base de bofetada não rendeu. Enquanto isso, o sujeito continuava lá, imóvel, pálido. Eles deram a entender que o caído tinha era tomado cachaça além da conta. E a fila crescia.

Ligou-se para o Samu, o 192, longos minutos até que alguém atendesse. Várias, várias perguntas para que um carro de socorro fosse enviado até ali. Passou um par de minutos e pessoas começaram a simplesmente saltar sobre o cara caído. Passava um, olhava e pulava o cara. Chegava outro, que sequer olhava, e mais um salto. Por um breve momento virou a principal atração do local, mas depois, devido ao tratamento (ou falta dele) dada pelos demais, parecia ser visto pelas pessoas como um pedaço de papel no chão.

Eu seguia na fila, olhando pra trás. Sabe aquela inútil e aflita curiosidade? Olhava, pro cara, olhava pra pessoas, olhava pra entrada do terminal esperando a ambulância. Apareceu um sujeito que se ajoelhou do lado do caído, tirou o pulso e tudo mais. Chegou outra pessoa que teve o mesmo procedimento.

O cara da empresa de ônibus que tem uma salinha ali do lado chegou, olhou, salto o caído, foi até um ônibus e voltou. A situação era absolutamente incômoda, o que fazer? Onde estava a ambulância? O cara tinha desmaiado há quinze minutos e nada de socorro.

O 1132 chegou e parti. Ficaram o caído, os dois acompanhantes e mais uma senhora. Nada mais.

quarta-feira, outubro 08, 2008

O cabelo “endredado” (ou seja, com dreadlocks) tem servido de pauta pra pôstes com alguma freqüência e esse não foge a essa, digamos, tendência. Explico: estava esse sujeito que blóga no ponto do ônibus, esquina da Rua Francisco Real com Ribeiro de Andrade, em Bangu, na manhã desta terça-feira. Esperava o 1132, ônibus que me libertou do famigerado 393. Tava lá, amarradão há alguns minutos e uma penca de ônibus se aproximaram todos aos mesmo tempo. O tal 1132, carinhosamente chamado apenas de “32” ia passando pelo lado de fora da pista, ou seja, ia passar batido do ponto e eu nem tinha vista se aproximar... mas diminuiu a velocidade, deixou os outros coletivos adiantarem suas vidas e encostou no ponto. Eu e mais dois marmanjos demos aquela corridinha sagaz e entramos pela porta da frente, fui o terceiro. Quando subi os poucos degraus e cheguei diante do motorista (que costuma pilotar os veículos que me pega por lá naquela hora) e, com um simpático sorriso, disse: “vi o senhor no ponto e parei. Conheci pelo cabelo”. Ah, fala sério! Esse negócio de cabelo endredado está divertido.

domingo, outubro 05, 2008

Cena urbana:

Chega um sujeito em um banco, na Avenida Rio Branco, Centro do Rio. Já é noite, ele só pode entrar para usar um caixa eletrônico. Mete a mão na porta, não abre. Empurra, nada. Força e fica com cara de bunda olhando pros caixas atráves das portas de vidro.

Já desanimado ouve um voz que vem do chão. Isso mesmo, do chão. Um sujeito que mora na rua e estava se preparando pra dormir bem na entrada do banco, todo coberto com papelão chamou o sujeito e falou: "aquela porta ali, aperta o botão e entra". Deu certo.

Nâo, eu não sou o sujeito, só assisti isso enquanto caminhava pela rua.
"Vicente, por que você não alisa o cabelo?"

Qualquer resposta é meramente desncessária...