Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, outubro 30, 2007

Vocação pra festa

Uma vez, vendo uma de um dos meus orientadores (antes mesmo de eu me tornar seu orientando), ouvi falar que “não é errado sermos um povo festivo”. E aí a ficha caiu. Sim, é verdade. Somos um povo festivo. Fazemos festas muito melhor que os outros. Os sisudos, chatos de galochas vão falar que fazer festa não é trabalhar. Coisa de quem nunca fez sequer uma reuniãozinha em casa. Existe coisa que dê mais trabalho do que uma festa? A diferença é que não se produz um bem material, mas um produto de outra natureza. Algo que não é paupável, mas também existe e é meio difícil explicar, as festas são feitas para produzir algo que vai viver dentro da cabeça ou, digamos de forma piegas, dentro do coração dos indivíduos. Sim! Sim! Sim! Adoro fazer parte de um povo festeiro! Ou o Réveillon, o Carnaval, o Círio de Nazaré, a Semana Farroupilha, as raves, os pagodes, os nossos churrascos nos fins de semana são o quê? Festas, ora!

Bom, essa mega e caozeira introdução é pra quê? Pra falar da escolha da Fifa pro Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014. Não vou entrar no mérito da armação que foi feita pra nação verde amarela ficar com a organização do torneio. Pq houve uns pauzinhos mexidos durante uns bons anos até acontecer a cerimônia de hoje faraônica sede da Fifa... Eu falo que a gente ainda se bate sofrendo com a história do povo festeiro. Algum bunda-suja imperialista chegou aqui e quis esculachar essa gente dizendo que aqui não se trabalha. Balela, rapá. Se trabalha e trabalha muito. Como esse povo corre atrás. Aí, talvez o mesmo bunda-suja ou, quem sabe, outro furibundo, disse que só se faz festa (e falou em tom pejorativo). Mas, na boa, quero ver onde está o erro em fazer a josta da festa. Movimenta-se a economia mesmo, é necessário melhorar a infra-estrutura e tudo mais. Ou os convidados vão ficar numa festa muito escrota.

“Ah, mas não é prioridade no Brasil fazer uma Copa”. Não é, nenhuma festa é prioritária. Eu, pessoa sempre otimista, quase um “Poliana”, acho que são obrigatórias transformações pra mostrar que essa péla-saquice de país pode receber a tal Copa. O tal do “Caderno de Encargos da Fifa” exige (ao menos está escrito) que é importante ter uma série de transformações, coisas do mesmo top das exigências pra Olimpíadas. Ok, ok, o prefeito jogou um caô que faria isso pro Pan. Ficou só no caô, o meu crédito vai por conta que o Brasil estará com a bunda na janela pra todo o mundo. Trocando em miúdos, não acho o fim do mundo que o Brasil faça a Copa de 2014.

Sim, existe um componente emocional que deve ser posto no bolo: desde 1982 eu acompanho esses eventos da televisão de casa e esse evento – se eu estiver vivo – será visto na minha própria cidade. De qualquer forma, isso não anula o argumento com o qual comecei esse poste, de que existe uma clara (e uma negada e combatida) vocação para festas desse povo que dever levada em consideração.