Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, outubro 16, 2007

Caminhava já pela rua, chegava em casa e passava da meia noite. Vinha ouvindo o acústico do D2, já não lembro a música, a noite não estava exatamente fria, mas era suficiente pra eu usar um casaco preto com detalhes em vermelho. Na entrada do bairro, do outro lado da rua, na outra calçada, um sujeito, um tipo de segurança ou algo que valha o mesmo, estava sentado com a cabeça enterrada num boné, casaco jeans e três cães a seu redor. Se alguém me dissesse que o figura tinha sido buscado por zé maria eu ia acreditar tamanha tranqüilidade.

Chegando perto do sujeito, haha, a minha tanqüilidade é que se foi. Dois dos três cães levantaram numa gana, começaram a latir numa disposição de impressionar. Pior, não só latiam, vinham na minha direção com as bocas arreganhadas mostrando todos os dentes que um cachorro pode ter. Um cão mané de um lado e outro me cercando do outro lado. Estratégica sinistra, fiquei me sentindo uma caça... Eu, hein. Pensei em correr, mas do que ia adiantar? Eles iam correr atrás de mim e me mastigar. Pensei em mirar num focinho e dar aquela patada classuda bem na meiúca do nariz canino, no estilo Obina, aquele mesmo que é melhor que o Eto´o. Ia sobrar um quadrúpe antipático e eu continuaria no prejuízo.

Não parei, segui ouvindo minha musiquinha do hip hop ao samba, caminhava pensando em como me safar. Vi que o péla-saco do boné enterrado e que parecia estar morto, aquele mesmo que estava cercado pelos cães percebeu a movimentação e nem se moveu, cagou quilos situação. Não se emocionou com o pequeno drama que eu encarava. Deu vontade de dar uma xingadinha básica, mas aí a cachorrada ia vir “de bicho” pra cima de mim.

Engraçado como a cabeça da gente funciona rápido nessas horas. Eu tinha um cão no campo de visão, o outro foi pra trás de mim, por um instante me preparei pra sentir umas dentadas. Pensei “se esse mané me morder eu parto pra cima dele e só paro de chutar quando os miolos estiverem espalhados no chão”. Olhei pra trás, lá estava ele, com cara de “vou te morder, otário”.

Vendo a situação perrenguinosa em na maior covardia canina, entrei numa de dialogar, era a hora do desenrolo. Pus a minha melhor cara de mau, algo do gênero “se me morder eu te arranco o saco, cachorro” e optei pela negociação oral. Olhei praquele que estava mais perto e falei em tom audível, “tô passando!”. Fechei a cara e olhei pra frente. Torcendo pro mané-cão entender. Acho que entendeu, porque o animal ficou na dele. Eu, na minha, caminhei um pouco mais rápido. Eles pararam de latir, devem estar achando até agora que tiraram onde comigo. Haha (risada maldosa)... Depois eu pego deles de surpresa num covardia igualzinha a que fizeram comigo. Cães furibundos!