Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, outubro 25, 2007

Segurança Pública ou só de alguns?

Há tempos eu não dou uma bela reclamada nesse blógue, né? Mas hoje vou e vou com vontade. Anteontem o secretário de Segurança Pública do Rio, o José Mariano Beltrane, disse em uma entrevista de rádio que um tiro dado em uma operação na zona sul carioca é diferente de um tiro dado na Favela da Coréia, em Senador Câmara, zona oeste do Rio, ou no Complexo do Alemão, pro lados de Bonsucesso, na zona norte. Senador Câmara é o bairro que vem logo depois de Bangu pra quem vai do Centro na direção de Santa Cruz, extremo oeste da cidade.

O secretário obviamente negou ontem com um argumento insustentável, era sua obrigação negar, mas a afirmação deixou muito clara o pensamento vigente na cidade de pobre não cidadão, de que favela pode levar bala mesmo, e daí? Quem liga? A classe média maravilhada com a violência do Bope mostrada no filme “Tropa de Elite”? Improvável.

O argumento dado por Beltrame para justificar sua afirmação do dia anterior era que existia muito mais gente morando próximo às favelas na zona sul que pelos lados do subúrbio. Será mesmo? Será que ele tem noção de quantas pessoas moram pelos arredores da Coréia? Será que ele sabe que a região de Bangu tem mais gente morando que Copacabana? E as pessoas que moram na favela e não são traficantes? O que daria algo em torno de... 90 e tantos % dos moradores? Não contam ou podem ficar em risco? E o Complexo do Alemão? São nove morros cercados por bairros de alta concentração populacional. São menos importantes que a classe média carioca? A meu ver, no mímimo, o secretário de segurança não conhece a geografia da cidade, o que é grave pro posto que ele ocupa. O gaúcho Beltrame (poderia ser amazonense, paraibano, paulista, tocantinense ou acreano, tanto faz nessa hora) deveria se inteirar sobre a área e que vai atuar.

Bom, no fim das contas, volto a dizer que afirmação do secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro só mostra a crescente direitização que vejo hoje em dia na sociedade. Direitos Humanos? Só se for pro cara da classe média. Pobre? Favelado? Com direitos humanos? Onde? No Rio de Janeiro isso soa como proteção ao tráfico.