Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, outubro 25, 2007

Tem dias que rola uma conspiração a seu favor. Eu me preparava para ir a Uerj hoje, apresentaria um trabalho acadêmico com elementos da minha dissertação durante um evento de Cultura Popular em um dos institutos da universidade.

Ontem chovia “di cum força" na cidade e o trânsito parou. Parece que todos puseram seus carros nas ruas que também foram ocupadas pela água. A imagem do dia foi a lama escorrendo pela entrada de um dos Rebouças e interditando a via. Falamos túnel Rebouças, mas são dois túneis contínuos que ligam a zona sul (pelo Humaitá) a zona norte (pelo Rio Comprido), não é nada, não é nada, é uma ligação super importante entre essas partes da cidade, ou mesmo uma via essencial que leva a galera da zona sul ao Centro. Bom, no fim das contas foi um tremendo caos como resultado de carros e água procurando ocupar as mesmas vias, e circular com veículos automotivos pelo Rio de Janeiro se mostrou não ser a melhor opção.

Ontem também liga meu orientador, pedia uma ajuda. Ele, que está sem carro, ficaria no perrengue pra sair de casa, mesmo porque seu caminho normal seria cruzar o Rebouças pra chegar até a universidade. Ontem, sua outra orientada daria aula no seu lugar, mas ela, que não mora no Rio não poderia vir. Ele, diante de todo o perrengue urbanano ficou bolado em sair de casa, ele está sem carro, o Rebouças (que lhe serviria pra ir da Gávea à Uerj) fechado seria uma sinistra dor de cabeça. Mas existia outro fator, era aniversário da sua mulher e ele ficou com medo de não chegar a noite. Ok, não tem tempo ruim pro Vicente. Quer dizer, tem sim, mas nada que a gente não dê um jeito.

Parti pra lá de trem (porque não era bobo de ir de carro ou ônibus) e, no susto, falei um pouco da minha pesquisa pra molecada da turma dele. Carnaval, trocas culturais, escolas de samba, mídia e tal. Acho que não vou entrar na lista dos malas do ano por ontem, fui honesto com a galera que pareceu entender e uns até se interessaram. Aí, no fim da parada, toca o celular... Era o co-orientador. Sim, tenho um orientador e um co-orientador. Sou espaçoso até academicamente.... E ele me liga perguntando onde estaria eu, porque estava na hora de apresentar o meu trabalho na Semana de Cultura Popular. Ahn??? Eu, mané q sou, iria hoje na universidade, quando deveria ter ido ontem...

Tava no andar de cima da universidade, desci com aquela cara de pau que Papai do Céu deu e fui apresentar o trabalho. Não me enrolei e acho até que mandei bem. Pois é, fui fazer uma boa ação num dia caótico no Rio de Janeiro e me dei bem. É bom ser legal, parece que rola algum tipo de proteção sobrenatural quando se procura fazer algo positivo pros demais. Que bom, deu uma certa sensação de deve cumprido e até de recompensa por ter posto a cara na rua naquele dia pentelho de ontem.