Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, junho 19, 2007

Miados

Seu Paulo é um senhor que mais parece um moleque. Trabalha comigo há coisa de dois anos, é o sujeito mais benquisto da equipe. Tem um coração do tamanho do Maracanã, mas não perde um motivo pra quizumbar quem quer que seja.

Há duas semanas chegou o sujeito ao trabalho contando uma história sensacional. Absurdamente sensacional. Contou Seu Paulo que era manhã de domingo e foi circular com Dona Linda, sua mulher.

Saiu ele com seu carro, foi a missa, circulou mais um pouco. Foi ao comércio mais adiante e, quando parou o carro, ouviu miados. Miados! Olhou pros lados, viu gato algum e seguiu a vida.

Foi pra casa, pôs seu carro na garagem e começou a estranhar. Mais miados. Como seu quintal é grande, pensou que pudesse ter algum gato nos arredores. Gatos adoram entrar em quintais pulando muros ou passando entre portões.

Ele foi, olhou e nada. Mas voltou a ouvir as manifestações felinas. Abaixou-se, olhou embaixo do carro e nada de novo. Cismou de voltar pra casa e lá foi outra vez um miauzinho vindo da direção do carro.

Seu Paulo foi lá, abriu o carro, olhou dentro, olhou fora. Olhou no motor, futucou o motor. Checou no peito de aço. Nada no motor.

Deu hora de sair de novo. Partiu com Dona Linda outra vez, já durante a tarde. O destino era a casa de seu sogro. Já era uns 15 km percorridos pela zona norte carioca. Chegando lá, parou o carro na rua. Foi falar com o pai da sua respectiva e.... miados. Seu Paulo nada entendeu, esperou o motor esfriar, pegou uma mangueira e foi jogar uma água pra ver se algo saída de dentro do carro. Nada.

Cansou de se sentir um otário e fui mexer no motor de novo. Abriu, abaixou, viu por baixo do carro, pelo lado, por cima. E miadinhos ainda vinham dali. O figura tanto procurou q viu uma pata, meteu a mão e puxou. Realmente ele havia circulado o dia todo com uma gata, uma gatinha, dentro do seu motor.

Como ela ficou tanto tempo dentro de um motor? Monóxido de carbono podem asfixiar, ela poderia ter caído, o calor é infernal, enfiar a para, orelha ou rabo em uma engrenagem poderia destruir o motor e fazer com que a criatura morresse. Em lugar disso, saiu com parte do pelo das costas e a ponta de uma orelha queimados. E não morreu! Seu Paulo disse q a gata deve ter gasto umas cinco das suas sete vidas ali. Depois disso tudo ele ainda adotou a bichana. Também, né, eu mesmo não sei se deixaria a criatura após tanto “apego” pra lá.