Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, junho 08, 2006

Trem. Composição com destino a Santa Cruz com partida às 19h41 da Central do Brasil. Corri, entre no terceiro vagão e vim. Rapidíssimo o cara de lata cortou a zona norte. Chegou num piscar de olho a Zona Oeste. Eu já estava sentado, observava como sempre o q acontecia ao meu redor. Parado na estação de Magalhães Bastos (três antes da minha) entra um camelô, uma rapaz que traz sua mercadoria dentro de uma mochila para despistar a ‘derrama’, a fiscalização da Supervia, a empresa dona dos trens:

“Ê! Água. Ê! Coca!
Bebe?
É meio litro de água. Um real!”.

Não sei porquê adoro ouvir os camelôs e sua forma de vender seus produtos.

Segundos depois, entra outro camelô no mesmo vagão. “É o autêntico japonês”. Adoro esses, quem não conhece fica sem entender. O tal do autêntico japonês é amendoim torrado e salgado, só que industrializado. Haha.

Já tava parecendo uma fila. Pouquíssimos segundos após entra o terceiro camelô. Esse vendia uma chave de teste – e não faço idéia do que é um bagulho desses. Na minha ignorante visão seria apenas uma chave de fenda. “Vai fazer uma ligação? Vai fazer uma extensão? Vai instalar o chuveiro? Duas chaves de teste por um real! E você ainda testa na hora”. Ah, entendi, o cara testa a chave de testes ali, na hora, ao vivo, na frente do cliente. Fiquei até com vontade de comprar só pra saber do q se tratava.

A porta já começava a fechar e, aí eu já achei exagero, veio mais um camelô correndo! Era o quarto em pouco mais de um minuto!!! Claro, vinha com uma mochila nas costas pra dichavar (é assim q escreve?) a mercadoria. “Esse é o passa-tempo da sua viagem”. Engraçado como boa parte do que os caras vendem é o ‘passa-tempo’ da sua viagem. Ah, esse cara vendia caramelos e similares.

Bom, o passa-tempo das minhas viagens é justamente observar esses caras e suas estratégias de sobrevivência. Ah, e como são os pregoeiros dos dias de hoje, fico ouvindo seus ‘pregos’ ou ‘pregões’, não sei a forma certa de chamar.