Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, maio 29, 2006

Eu acabei com o dia do cara

Jogo tenso. Tremendo Fla-Flu rolando no gramado. O torcedor aqui, lá no alto, nas arquibancadas amarelas, do lado esquerdo da tribuna, no nosso Maracanã. O lado onde fica a maior torcida do Brasil, a Rubro-negra carioca, a do Flamengo.

Últimos minutos do primeiro tempo, escanteio do lado de lá do gramado. Era a favor do Flamengo. Bola alçada na área, a cabeça de um zagueiro, o Renato Silva, surge e manda a pelota pra dentro das redes. Explosão de emoção. Uma nação em plena festa rubro-negra.

Eu levantei do meu lugar na arquibancada, desci alguns degraus agitando minha bandeira. Gritando enlouquecido com o empate.

Um senhor, sentado do outro lado do corredor levanto pra me abraçar quando vi o juiz parado no meio da área. O que a aquele fura-olho tava fazendo lá em lugar de correr pro meio do campo como todo árbitro de futebol faz ao marcar um gol?

O senhor, com o rosto absolutamente emocionado, comemorava comigo enquanto eu tentava avisa-lo que Paulo César Oliveira tinha invalidado o gol. Deu pena. O rosto de gente sofrida – eu sempre encontro gente com rosto de gente sofrida – tava cheio de alegria. Aquele pela já esgarçada com o tempo tinha um sorriso do tamanho do anel do Maracanã. Mas conforme eu ia fazendo ele entender o que acontecia o tamanho do sorriso ia diminuindo, diminuindo, diminuindo...

Ah, q tristeza... Acabei com o dia do senhor que fechou a cara ao perceber que nosso gol estava anulado.
Tive a mais desconfortável sensação de feito o dia de alguém ruir... E nem deveria ser na minha conta, mas na do bandeirinha cego – ou torcedor do adversário – que jogou contra a gente.