Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

domingo, junho 04, 2006

Entrando na faca

O indivíduo se sente ridículo. Chega ao lugar da cirurgia onde, após se identificar e tal e assinar um documento dando conta q está ciente q vai entrar na faca e ali nada é milagroso, vai pro quarto. Colocam um tipo de meia nos seus sapatos, uma touquinha que parece daquelas de banho pra mulher e te vestem com uma coisa q parece um saco de lixo, mas tem braços e até uma manguinha bonitinha branquinha.

Não resisti e fui olhar no espelho, vi qualquer pessoa menos Vicente.
Aí, já estando lá de bobeira ainda rola um valium pro sujeito ficar chapíusque, lerdim, lerdim e ser operado na boa. Ainda tapam o olho que não será operado. A impressão é de ser um pirata com tapa-olho e tudo.

"Laranja Mecânica"
Quando chamado para o quarto da cirurgia, o mané que vai entrar na faca ganha duas bolinhas pra ficar apertando. Eu achei engraçado e comecei a zoar aquela bobagem como se fosse fazer malabarismos. Sabe aquilo que alguns moleques fazem no sinais pra ganhar um dinheiro qualquer? O mané aqui foi pagar esse mico vestido de ‘operado’, dentro daquele simulacro de saco de lixo e com minha touquinha de banho.

Deitei lá na parada e me cobriram com um lençol. Abriu-se o lado do zoio que entraria na faca. A aflição começou. Rolou um momento “Laranja Mecânica”. Colou-se um troço para não piscar o olho... depois desceu uma paradinha circular bem no olho enquanto a doutura falava “vc vai ficar dez segundinhos sem ver nada”. Uh, diliça... A sensação de estar de olho aberto com algo o cobrindo e te cegando, por segundo que seja, foi sinistra...

Carne queimada
Mesmo q eu quisesse o mané do olho ia ficar aberto. E ficou. Fiquei sacando uma luzinha vermelha q insistia em se manter em cima de mim. Mas tb teve o momento lindo da carne queimada. A dotôra disse: “Esse barulinho e essa luz de agora são o laser”. Ahan, deixa ele vir. Blógue, rolou um cheiro de carne queimada q me nego a acreditar que foi meu olho. Mas tudo bem, depois comecei a enxergar sem óculos. Foi estranho, foi intrusivo, mas valeu.