Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, setembro 29, 2004

E como são as coisas, né...
Os jornais mostram hoje assaltos sob a luz do dia na praia do Leblon. Q empáfia! No bairro da burguesia carioca! Como esses negrinhos favelados se atrevem, né? Engraçado é q questionam o fato do bairro ser um dos mais policiados do mundo. E neguinho acha q é exagero quando o comandante da PM local diz isso. Cara, tem um batalhão da Polícia Militar ali, só pro Leblon, Gávea e São Conrado! Só se esqueceram de por os papa mikes na areia.

Aí eu junto nesse bolo o piscinão da prefeitura q, reza a lenda, foi inaugurado esses dias, sem estardalhaço, em Guadalupe, Zona Norte do Rio. O grande barato da tal piscina é q foi construída onde antes existia um terminal rodoviário, construído pelo ex-prefeito Marcello Alencar. O terminal serviria para ter linhas ligando Zona Oeste e Zona Norte do Rio de Janeiro, além da Baixada Fluminense. É um lugar estratégico, q dá mão muitos pontos da cidade e do Grande Rio. Para lá tb rumariam ônibus intermucipais e interestaduais, desafogando um pouco a Novo Rio, q fica praticamente no Centro, a 20 km de Guadulpe e facilitando a vida da população q tem q se deslocar até lá embaixo. O espaço sempre foi subutilizado.

Com esses dados na mão, faço a seguinte leitura: pra q dar meio dos pobres saírem do lugar? Põe-se uma piscina perto da casa deles (assim como o Piscinão de Ramos) pra q eles não se atrevam a ir pras praias incomodar a classe média carioca. Exagerei? Hmmm.... Sei não... Sem querer esconder o fato de acontecerem assaltos, tanto faz se na praia, na calçada ou seja lá onde for. Mas com a exposição machetada desses acontecimentos estamos, a meu ver, fomentando o medo e a desconfiança entre as classes sociais dessa santa cidade.

Não satisfeito, ainda jogo outra parada nesse bolo. A execução de dois sujeitos pela Coordenadoria de Operações Especiais (Core) da Polícia Civil no Morro da Providência, tb essa semana. A Core reúne (ou reuniria) os policiais de elite da Policia Civil fluminense. Tinha os dois caras sob seu domínio (no alto do morro) e os quebrou, sem pena, sem dó, sem piedade. O Dia mostra hoje q a execução foi premeditada visto q um tapete já estava do lado dos futuros presuntos. Pra q? Pra facilitar no transporte dos corpos pra fora da Providência.

Aí hoje escutei q não tinha problema, "eram bandidos". Ah... então só a classe média tem direito a vida? Foi o q entendi. Tudo bem, um dos fuzilados já era envolvido com parada errada e outro era um adolescente. Até q se prove o contrário, não tinha NADA q justificasse sua execução.
Sabe o "silêncio sorridente" q o Caetano cantou sobre a Chacina no Carandiru? É o mesmo q vejo agora. Algo do tipo “tiveram o q mereceram”. Esse caô de q vivemos em guerra civil me parece fazer sentido diante dessa atitude de muita gente. Estamos em guerra com qq cara q seja favela, pois se é favela, oferece perigo.

Eu tenho mais medo do pensamento pré-nazista da classe média carioca do que do risco q vem das favelas.