Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, setembro 28, 2004

Pedido de mãe é pedido de mãe

Após a tradicional e diária maratona de volta ao lar (como eu valorizo, né), Dona Glória deixou uma surpresinha pros filhos.

A situação: Vicente, o ser sempre reclamador q mantém esse blógue, sai do trabalho às 19h30, já com o prédio no escuro (a luz se apaga às 19h e quem ficar trabalhando depois q se dane). Caminha da Candelária até o Castelo. Pega o 393 (o Catelo-Bangu). Desce na Avenida Santa Cruz. Caminha os 800 metros de sempre até o Parque Leopoldina, pedaço bangüense onde resido. Chega em casa. Abre a porta. Olha pra geladeira. Vê um papelzinho grudado com um imã na porta do aparelho. Caminha pensando se o recado é pra si ou pro irmão e lê:
"O gás acabou. Tem q trocar o botijão. Tem um cheio lá fora. Quem chegar primeiro pode fazer a troca? Beijo. Mãe".

Sim, na Zona Oeste do Rio e em vários pontos da Zona Norte não há gás encanado. A gente compra mermo dos caminhões q passam pelas ruas vendendo os botijões cheios.

Aí eu me perguntei, p q eu cheguei antes q me irmão?! P q?! Bem feito, pedido de mãe é pedido de mãe. Deixei minha mochila na escada e fui procurar o tão botijão. Nessa, chega o fiel escudeiro Irmão-Léo, mas eu já tinha abraçado a 'missão'. Peguei o bujão cheio e, na boa, como o bicho é pesado. Milhões de toneladas de Gás Liquefeito de Petróleo. Levei até o lugar onde estava o velho e já vaiza e onde deveria entrar o novo. Fica tudo do lado de fora da casa. Seu Carlos, pessoa projetista que é, fez um pequeno gasoduto q vai do quintal até o fogão. Vicente, pessoa mané q é, nunca havia prestado atenção na sacada paterna...

Eu queria entender pq depois de terem criado tanta tecnologia ainda é tão dificil desatarraxar o bocal do botijão? Não há uma ferramenta q seja eficiente. Tava lá o prego do Vicente, sentado no quintal, sem camisa, de calça de prega e sapatados, trocando o botijão. Pior, consegui desatarraxar o bocal, tirar o o vazio e colocar o novo. Resolvido? Má resolvido nada... O bicho não parava de vazar gás. PUts, aquele cheiro impregnante tomando o quintal. Eu me sentia um quase-homem bomba.

Irmão-Léo, o caçula sagaz, pegou uma barrinha de sabão de coco pra malandragem clássica de raspar uns pedaços e vedar o vazamento. Enquanto o gás continua vazando, a gente vê pq faz bolha. Em dado momento, tudo pareceu resolvido. O mutirão os irmãos Cardoso pra deixar sua mães feliz parecia ter funcionado.

Dá-se alguns minutos, Dona Glória chega em casa. Viu q fizemos a troca. Foi lá, olhou. E reclamou. "Vcs colocaram isso direito? Tá um cheiro horrível de gás".

Q sensação de derrota...

Irmão-Léo foi lá, viu qual era, lascou sabão de coco de novo e salvou a noite.

Ufa. Aí sim pude realmente chegar em casa e ir pro meu quarto.

Perrenguinho doméstico, hein.