Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, julho 16, 2007

Abertura do Pan

É, eu fui. Sim, eu estava lá. A respectiva cismou que queria ir na abertura dos XV Jogos Panamericanos. Lá fui eu comprar ingressos pensando que seria um mega-perrengue. Nem foi tão sinistro. E, de lambuja, ainda dei depoimento pro Dutra, coleguinha com quem trabalhei, e que tava a trabalho por aqueles lados. Nem vi se foi publicado. Vou ver nas edições antigas do jornal.

Entrar no estádio foi meio confuso, tudo bem, foram milhares de pessoas chegando ao mesmo tempo. Mas ninguém me pediu minha carteira de estudante. Qualquer um poderia der jogando o caô da meia entrada e conseguido chegar lá dentro do Maracanã sem qualquer problema. Mas, já lá dentro, encontrar o lugar que tava no ingresso foi meio estranho. Não havia uma alma sequer pra dar um alô. Descolado, rato de Maracanã... lá fui eu e me achei. Mas e as tias que não costumam ir lá? Bateram cabeça.

A festa foi bonita, não posso negar. Foi tecnicamente certinho. Coreografias, alegorias, luz, fogos... O momento mais bacana pra mim foi o hino nacional. Foi absolutamente emocionante cantá-lo a plenos pulmões junto com todo o Maracanã. Lágrimas desceram dos olhos ao acompanhar a bandeira do Brasil ser hasteada bem diante dos meus olhos. Deu orgulho, sabia?

Mas algumas coisas chamaram minha atenção negativamente. Por exemplo, por que o Rio de Janeiro tem que ser representado só por praia? Só por Copacabana? Foi bonito? Puts, foi bonito à vera, mas me nego a aceitar que minha cidade seja retratada apenas como um balneário. O Rio de Janeiro é muito mais, sua cultura, sua história mostram isso a qualquer um. Pena que a galera que fez a festa tenha pensado só em mostrar aquilo. Sim, sou um cidadão periférico cri-cri.

O funk e o samba foram esquecidos, só se ouviu bossa-nova. Ah, pelo amor de Deus, bossa-nova é só uma domesticação do samba pra classe média branca. Ah, os meus críticos vão falar que existe toda uma erudição nela, ok, e daí? A massa carioca está mais pro funk, mais pro samba, músicas que fazem mais parte do cotidiano urbano, têm mais a essência do Rio que a bossa-nova da classe média carioca.

Outra coisa que não me agradou: Daniela Mercury cantando “Cidade Maravilhosa”. Achei um tiro no pé. Sem alma, sem graça. Algo definitivamente brochante. Ainda lá pensei numa série de nomes que poderiam cantar esse hino oficioso da nossa cidade, mas...

Agora, a grande babaquice foi a vaia pro Lula. Tive na hora a impressão de estar no lugar errado. As pessoas vaiaram o Lula e aplaudiram o Cesar Maia??? Deu nojo, viu. Deu vontade cospir naquele bando de bundas sujas. Enquanto o Lula abria o cofre e permitia que o tal do Pan pudesse ter suas obras concluídas, o ilustre prefeito estava sumido, passando uma interminável temporada em Nova Iorque. Mas quem vaiou? A boa e velha classe média do alto de sua hipocrisia e de seu rei na barriga. Pudera, eu estava num lugar onde as pessoas tiveram que desembolsar, pelo menos, meio salário mínimo pra estar. São as mesmas pessoas quem fazem passeata pedindo paz, mas esculacham seus empregados e os mais pobres. É, até dá pra ter uma idéia... Mas eu, lulista assumido, não vaiaria Fernando Henrique em uma solenidade como aquela. Foi só mais uma prova da falta de educação desse povinho bunda que insiste em jogar contra o próprio país, olhando só pro seu umbiguinho.

Mas, confesso, tb vaiei a delegação estadunidense. Vaiei di cum força. Ah, e aplaudi os argentinos. Eles são marrentos, mas gosto deles.