Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, janeiro 25, 2007



Dia desses uns camaradas da harmonia da Estrelinha me convidaram pra dar uma moral no desfile. Gostei da idéia e topei. A Estrelinha da Mocidade é a escola de samba mirim da Mocidade Independente. Desfila no sambódromo na sexta-feira de carnaval, esse ano tem mais de mil crianças inscritas pra fazer da escola.

Na primeira vez que fui a quadra tive uma surpresa que me comoveu, arrepiou até. Cheguei já atrasado, o ensaio rolava solto. A bateria mandando ver sobre seu palco, um bando de moleques mantiam uma cadência caprichada. Pequenas passistas frenéticas já com requebrado de dar inveja a muitas adultas. A voz lembrava um puxador adulto, na realidade era um moleque de 15 anos com provável futuro de gogó oficial de alguma escola. Os quatro casais de metres-sala e porta-bandeira se apresentavam. Vi o primeiro, com o casal maior, e depois os demais, parecendo uma escadinha. Mas observei o quarto, a porta-bandeira era uma menina miúda e o mestre-sala era um moleque com braços atrofiados e um bailar até cambaleante.

Fiquei pensando como é q era possível aquilo, o moleque estar ali, no meio da quadra, evoluindo na maior alegria, na maior segurança, parecendo estar curtindo tudo. Enquanto eu ficava observando ainda meio atônito, ele , junto com a porta-bandeira, e caminhou na minha direção. Era a deixa pra eu beijar a o pavilhão da escola... Tive q segurar o choro. Eram meus primeiros instantes com a Estrelinha e já com essa recepção pra abalar o coração. Como não se dedicar a algo que já te recebe assim?

Mas para o desfile, não é nada, não é nada, é um bela responsabilidade. Nem vale pontos, mas é onde os futuros sambistas da Mocidade começam, são crianças de 5 a 17 anos e dá gosto ver a empolgação, a paixão da molecada. Já vi desfiles de escolas mirins, é de encher os olhos a paixão que a criança põe naquilo. E o barato é ajudar no culto a essa paixão, na curtição deles a esse barato q é desfilar tão jovem.

Salve a Mocidade e salve a Estrelinha.