Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, dezembro 12, 2006

Existem coisas que me deixam profundamente incomodado e sempre falo disso aqui. O desleixo como se trata o próximo me deixa aviltado. Dia desses estava na Lapa com o amigo E da ZO. Cerveja vai, cerveja vem... encontrou-se figuras que estudaram no mesmo colégio, nos fins dos anos 80, início dos anos 90. Gente engraçada e a conversa continua.

Antes disso, eu e E da ZO havíamos encontrado, quando saíamos do Circo Voador, uma senhora já com mais de 50 anos, catadora de latas que me perguntara sobre a camisa que eu vestia. Pra variar, Vicente trajava mais uma peça da coleção, era a do Genk, um time belga. Ela quis saber onde comprei, quanto custou, essas coisas. Era dona Georgina, que já havia mais tarde se transformaria em tia.

De novo com as figuras, conversa, risos e tal. Estávamos na Joaquim Silva e rumamos pra baixo dos arcos para comer alguma bobagem. Quem surge? Dona Georgina. E, para minha surpresa, os olhares pra senhora, uma negra de ar sofrido, eram de desdém, de um certo nojo. Nojo por alguém que está trabalhando naquela hora pra defender o seu? Pois é.

Ela sentou-se do meu lado, veio falar comigo, respondi, dei atenção. Os outros figuras fizeram graça, fizeram piada. Ridicularizaram ela e o Vicente de lambuja. Passaram-se uns minutos, viraram as costas e se foram. E sem falar nada, como se estivessem fugindo.

Fiquei lá com Dona Georgina que já virada Tia Georgina. Contou a vida, conversou, falou-me da sua história, do que fazia ali. Sem o ar blasé que alguns com quem estava tinham, com falar humilde, desprentencioso. Estranho, ela pareceu ter ficado feliz por estar conversando. Sem querer mostrar mais do que era, só o que era. Depois subiria pra Santa Teresa pra casa, mas teria que esperar até 5h. Sinistro porque eram apenas 3h30.

Como os antigos firugas, agora pejorativamente classificados como bundas-sujas estavam distantes, achei melhor partir atrás de E da ZO, camarada que fornecia o bonde. E da ZO estaria comigo, mas por interesses escusos, optou por seguir atrás de um rabo-de-saia que compunha do grupo dos bundas-sujas. No bonde voltando pra ZO não pude deixar de falar da minha decepção com as figuras encontradas naquela noite. Ele mal se tocou, só olhava pro rabo-de-saia mermo. Haha.

Voltando à Lapa vou procurar Tia Georgina que é força amiga, mas vou torcer pra não esbarrar com os bundas-sujas. Amigo E da ZO deve estar comigo pra se redimir.