Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, dezembro 07, 2005

O seqüestro do celular

Praia do Leme, zona sul carioca. Sol, céu limpo, praia cheia. O personagem estava sentado na areia curtindo a boa vida, a sorte de estar na cidade e ser mais um carioca por adoção. Já se achando malandro, levantou-se, cavou um buraquinho na areia, deixou chinelos, camisa e celular e correu pro mar.

Quando voltou... sentiu o perrengue. Cadê o celular? O famigerado amigo do alheio viu a ‘malandragem’ do personagem e pegou o aparelhinho que, ainda se achando malandro, correu pro orelhão mais perto e ligou pro próprio número. O amigo do alheio atendeu. Confirmou que estava com o celular. O personagem, que estou me esforçando pra não chamar de mané, tinha praticamente toda a sua agenda no tal aparelhinho. Agenda do tipo ‘essencial para existência’, com todos os contatos profissionais.

O amigo do alheio sugeriu uma troca: devolveria o celular do personagem por uma quantia módica, uns 200 reais. Negócio acertado. O personagem acertou que ia pegar o dinheiro e ficou de ligar outra vez pro próprio número.

Pegou o din-din e cumpriu o prometido. Ligou e acertou “a troca”. Iria caminhando pela praia, deixaria o dinheiro sobre um banco daqueles de concreto, sobre o calçadão e seguiria andando, sem olhar para trás. O acerto dava conta que voltaria a ligar minutos depois. Mais uma ligação para o próprio número. O amigo do alheio, sangue bom que só, disse que o personagem poderia ir andando até outro ponto, a cem metros dali, e pegar o aparelho em um orelhão. E lá foi ele... Pegou seu celular de novo, sentiu-se o ‘negociador’, teve um preju, mas e daí? Seu contatos estavam todos ali de novo e 200 reais seria uma merreca por conta do que ainda poderia conseguir por meio daqueles números.

É verdade, a história não foi inventada. Aconteceu à vera no Leme. O personagem me contou pessoalmente. Ainda me soa estranho que alguém possa ter se sentido experto a ponto de seqüestrar um aparelho de outra pessoa... mas tb me soa estranho esse apego aos telefones... ao que eles poderiam render futuramente... Sei não...

Bom, são histórias, somente histórias de uma cidade grande...