Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, novembro 11, 2003

Situação tristemente insólita

Há algum tempo entrou no meu icq uma menina peruana. Morava em Lima e procurava um conhecido q tinha o nome parecido com o meu. Disse a ela que nao era o cara, um escocês, no caso, mas um brasileiro do Rio de Janeiro. Ela disse q tinha me achado simpático e perguntou se podia me deixar na sua lista. Td bem, né. Começamos a conversar quando nos encontrávamos conectados.

Passado algum tempo, num belo dia ela me disse q ia casar com seu professor de francês (!). Casou em Cuzco, foi morar com o professor de francês em Paris, cidade natal do indíviduo. Passou mais um tempo e ela engravidou, eram gêmeos.

Devido a complicações na gravidez, perdeu os bebês já bem perto do parto e ficou muito abatida. Com a crise iniciada, o casamento foi pro buraco e ela voltou ao Peru.

Vivia em Lima outra vez e parecia estar em depressão. Estava sempre triste e era difícil conversar com ela devido ao mau humor, as frustraçoes e as tristezas. Após mais um tempo, cismou de estudar português e falava comigo, já pelo messenger, para praticar. Como a gente conversava em espanhol, ela quis mudar o jogo e conversar em português. Normal.

Até onde me contou, ela fazia planos de visitar o Brasil, conhecer o Rio e tal do Vicente. Mas algo grave aconteceu por lá. Ela não contou, nao comentou. Guardou só pra ela.

Outro dia, já nao tão belo como os outros, ela se conectou e disse que se despedia. Parecia estar tranquila e muito certa de alguma decisão. Disse q nao mais nos encontraríamos. Entendi q ela optara por dar um fim na própria vida. Na realidade nao soube se dava crédito ou deixava quieto. Tentei conversar com ela e mostrar meu ponto de vista, de q acredito na vida. Sempre. Até agora nao me fez deixar de acreditar q exista algo mais importante. Acredito até q é o meu único bem verdade é essa minha vida de moleque que levo.

Pois bem, mesmo argumentando, ela nao cedeu. Deixei quieto apostando que seria um surto, só um surto q passaria. Mas confesso q o planejamento q ela mostrou me deixou assustado. Disse q arrumou os documentos, escreveu carta, transferiu dinheiro, esteve com família e amigos. Tudo muito friamente calculado. A sensação de impotência foi enorme, fui pra cama e demorei a dormir pensando na história.

Nesse fim de semana, estava eu no messenger e vi o aviso de q ela se conectara. E me enviou um 'hola', como de costume. Fui responder e a pessoa do outro lado se identificou como outra pessoa, como Lina. Puts, eu sabia q Lina era o nome de sua irmã mais velha... Não falamos diretamente sobre o q aconteceu, na realidade eu esperava que fosse apenas fazendo uma 'broma', como as vezes ela fazia. Nao era. Lina, mesmo sem eu ter perguntado, confirmou. Disse q ficou surpresa com a atitude, q recebeu um e-mail dela na noite anterior dizendo somente "sinto-me só". E q a encontrou na manha seguinte. Disse q ela deve ter posto algo no próprio vinho. A menina era engenheira química, nao teria problemas e viabilizar um veneno...

Fiquei mal. Nao contei pra ninguém pq eu mesmo nao sabia como lidar com história, na realidade nao sei. Rezei por ela, mas nao consigo tirar a história da cabeça. Estranho sentir-se assim surpreso e triste por algo de alguém q vc nunca viu. A sensação de impotência é muito frustrante num momento desses.

Bom, to tentando me convencer de que vida q segue... E confesso ter a esperança de que vai se conectar outra vez e q isso nao passou de uma brincadeira de péssimo gosto.