Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, agosto 06, 2003

Programas sociais

Lá venho eu tacar pedra em mais coisas. Ah, que se dane, tacar pedra as vezes é bom, põe a indignação pra fora. Nesses dias tem rolado um aumento das inserções publicitárias na Globo do Criança Esperança e me fez pensar nisso que to começando a escrever...

Quem banca boa parte dos programas sociais são a elite econômica, as grandes empresas e o governos em suas três escalas (federal, estadual e municipal). Muitos deles, quando vêm de algum capitalista enfiado na grana, procuram dar um retorno pra sociedade, objetivam melhorar a educação, a saúde e no fim a qualidade de vida de certas comunidades. Mas, sendo esse chato que nunca neguei, vejo outro fator que acaba não sendo levado em conta: alguns procuram diminuir o próprio risco social.

Explico.

Vários desses programas sociais acabam privilegiando as comunidades próximas de onde os mantenedores vivem, logo, ans proximidades das áreas mais abastadas da cidade. Tiro o Rio como exemplo, é só olhar a quantidade de programas pra ajudar as comunidades que ficam nos arredores do Leblon, Ipanema e São Conrado. Duvida? Quais são as comunidades que ficam por ali? Pavão-Pavãozinho, Vidigal, Rocinha... Joguei um caô? Pode ser, mas pra mim faz sentido.

Com essas iniciativas o cara não tá querendo na realidade ajudar o outro ser humano, tá querendo é tirar o dele da reta, tá querendo é fazer com o que o moleque que assaltaria ele no sinal tenha outra ocupação, saiba usar um computador ou pratique um esporte pra ocupar seu tempo e cabeça. O tal maluco que tocas as iniciativas tá errado? Acho que tá quando procura fazer com egoísmo no fundo, só vendo a sua segurança.

Aí, vem um mané e diz pra mim: "mas a Mangueira não fica numa área dessas e teve o dinheiro do Xerox pra tocar o seu programa social, a Vila Olímpica". É verdade, mas ela tem ao seu lado a escola de samba, que, como já postei no início do ano, conta - felizmente pra ela - com uma proteção da classe média. Como para a classe média a Mangueira é legal, faz sentido ter um programa do gênero por lá.

O Complexo da Maré, o maior problema para os governantes da cidade e do estado do Rio de Janeiro no dia de hoje, onde vivem centenas de milhares de pessoas não é paparicada assim. Muita gente tem um mega medo de passar por lá, dizem que a polícia tem que entrar e ocupar e tal, mas esquecem do social. Ninguém leva em conta que foi o esquecimento do poder público, o fato do lugar ter sido ignorado POR TODO MUNDO que o deixou assim, à margem da sociedade. O grande azar foi que esse lugar é estratégico, fica num triângulo formado pelas três principais vias expressas da cidade (as LInhas Vermelha e Amarela e a Avenida Brasil).

E quem faz o programa mais legal nesse complexo? O pessoal do Ceasm, que é uma ong formada por gente da própria comundiade.

O governo municipal começou a investir lá há pouco tempo, com a Vila Olímpica da Maré e tal, assim como outras comunidades, como a própria Vila Vintém (lá perto de casa), mas ainda é pouco. Os grandes projetos no Rio de Janeiro não chegam nas comunidades mais carentes, que ficam justamente na Zona Oeste carioca, nas cidades da Baixada Fluminenses e em São Gonçalo.