População de rua
O Rio é belo, os cariocas são simpáticos, temos a alegria e a descontração do samba e do funk, temos o Flamengo (que nem sempre dá alegria, mas e daí?) mas existem problemas que todo dia insistem em pular bem na minha frente. Como tem gente morando na rua nesse lugar! Já conheço duas peças que habitam os arredores aqui do escritório, uma senhora que vive bem embaixo do prédio e outro sujeito que é absolutamente imune ao frio e parece um buda, eternamente sentado na calçada na Rua da Quitanda, entre as ruas São José e da Assembléia. E acabo de lembrar da mulher que fica sentada na escadaria do metrô Cinelândia, ela fica abaixando o tronco repetidas vezes, parece até que faz insistentes e intermináveis abdominais.
Como essas pessoas vivem? Do que se alimentam? Onde dormem? Se é que dormem. Como foram parar ali? Será que não têm família? Será que a família é justamente o motivo de terem ido para na rua? Ninguém se preocupa com elas? Cadê o poder público pra ajudar essas pessoas? Será que querem ser ajudadas?
Bom, sem resposta pra essas perguntas vivo passando por elas me perguntando o que posso fazer pra ajudar e nem sei se posso ajudar. Mas é um tortura ver essas pessoas nessa situação e o pior e ver suas expressões totalmente desesperançadas, pra elas todos os dias devem ser iguais. Acordar com um monte de gente passando, o cara da banca de jornal abrindo, pessoas passando, camelôs motando suas banquinhas, a guarda municipal passando, pessoas passando, bancos, restaurantes e bares abrindo, anoitecer, pessoas passando, o cara da banca de jornal fechando, o camelô recolhendo suas bugingangas e vazando, as pessoas passando, os bancos, os bares e os restaurante fechando e dormir de novo. Eu teria enlouquecido vivendo assim.
E a reclamação que ouço é dando conta eles enfeiam a cidade. PelamordeDeus!
E qual a solução da prefeitura? Pega os caras, leva pra Fazendo Modelo, lááááááá no fim de Campo Grande e pronto. Como o lugar fica longe toda a vida (acho que a quase 50 km da parte central da cidade), talvez espera-se que eles não voltem a habitar o Centro ou as partes nobres do Rio.
É, o Rio não é só alegria.
E tem mais!
A caminhada pelas ruas do Centro até o ponto final do 393 (aquele mesmo que me leva pra casa todo dia) rende mais coisas. O ônibus parte bem da frente da antiga sede do Ministério do Trabalho, no Castelo. O prédio é enorme, ocupa todo um quarteirão, tem pouco menos de dez andares de grandiosidade e imponência. Foi erguido por Getúlio Vargas e -me foi dito por quem conhece - que segue o modelo de arquitetura fascista. Sinistro... Fora o espanto trazido pelo concreto, suas laterais que dão pras ruas laterais (Araújo Porto Alegre e avenida Almirante Barroso ) contam com enormes janelões, na altura do chão, de cerca de um metro e meio de altura por dois metros e meio de largura, só de boca. Acho eu. E com uma profundidade de cerca de um metro.
E daí?
E daí que esses lugares, durante a noite, viram uma pousada. Esses janelões viram verdadeiras camas. É outra tristeza passar por ali e ver a quantidade de homens com rostos sofridos e cansados, carrengando bolsas e mochilas, armando a cama com papelões, tirando um cobertor sabe-se lá de onde e se preparando pra dormir. Esses, ao contrário daqueles sem paradeiro, parecem ter outra história. Parecem ter trabalho, alguns até têm jornal que, antes de servir pra forrar o chão, deve servir pra leitura.
Lembro ter lido tempos atrás que boa parte da população de rua carioca tinha casa e família, mas não regressavam todos os dias por morarem em lugares distantes no Grande Rio e por lhe ser custoso financeiramente essa ida e volta. Imagina gastar R1,40 de ida e de volta todo dia durante uma semana pra quem ganha salário mínimo e tem mulher, filhos e casa pra sustentar?
É estranho, muito estranho. Ainda mais pq nas calçadas diante dessa 'pousada popular' improvisada param durante a semana carros e carros, muitos deles muito longe de serem populares como meu Ervilhão. Os carrões (ou carrinhos tb, nessa hora tanto faz), pertencentes aos freqüentadores da Pampa Grill, Symbol e demais pontos de pegação da juventude de classe média (eu já andei por esses lugares tb, nao me excluo nessa hora) nos arredores ficam ali, se esfregando na cara da miséria.
Já deu nó na garganta ao passar diante dessa cena mais de uma vez.
A cidade de São Sebastião que tanto me dá orgulho tb tem disso. :-(
O Rio é belo, os cariocas são simpáticos, temos a alegria e a descontração do samba e do funk, temos o Flamengo (que nem sempre dá alegria, mas e daí?) mas existem problemas que todo dia insistem em pular bem na minha frente. Como tem gente morando na rua nesse lugar! Já conheço duas peças que habitam os arredores aqui do escritório, uma senhora que vive bem embaixo do prédio e outro sujeito que é absolutamente imune ao frio e parece um buda, eternamente sentado na calçada na Rua da Quitanda, entre as ruas São José e da Assembléia. E acabo de lembrar da mulher que fica sentada na escadaria do metrô Cinelândia, ela fica abaixando o tronco repetidas vezes, parece até que faz insistentes e intermináveis abdominais.
Como essas pessoas vivem? Do que se alimentam? Onde dormem? Se é que dormem. Como foram parar ali? Será que não têm família? Será que a família é justamente o motivo de terem ido para na rua? Ninguém se preocupa com elas? Cadê o poder público pra ajudar essas pessoas? Será que querem ser ajudadas?
Bom, sem resposta pra essas perguntas vivo passando por elas me perguntando o que posso fazer pra ajudar e nem sei se posso ajudar. Mas é um tortura ver essas pessoas nessa situação e o pior e ver suas expressões totalmente desesperançadas, pra elas todos os dias devem ser iguais. Acordar com um monte de gente passando, o cara da banca de jornal abrindo, pessoas passando, camelôs motando suas banquinhas, a guarda municipal passando, pessoas passando, bancos, restaurantes e bares abrindo, anoitecer, pessoas passando, o cara da banca de jornal fechando, o camelô recolhendo suas bugingangas e vazando, as pessoas passando, os bancos, os bares e os restaurante fechando e dormir de novo. Eu teria enlouquecido vivendo assim.
E a reclamação que ouço é dando conta eles enfeiam a cidade. PelamordeDeus!
E qual a solução da prefeitura? Pega os caras, leva pra Fazendo Modelo, lááááááá no fim de Campo Grande e pronto. Como o lugar fica longe toda a vida (acho que a quase 50 km da parte central da cidade), talvez espera-se que eles não voltem a habitar o Centro ou as partes nobres do Rio.
É, o Rio não é só alegria.
E tem mais!
A caminhada pelas ruas do Centro até o ponto final do 393 (aquele mesmo que me leva pra casa todo dia) rende mais coisas. O ônibus parte bem da frente da antiga sede do Ministério do Trabalho, no Castelo. O prédio é enorme, ocupa todo um quarteirão, tem pouco menos de dez andares de grandiosidade e imponência. Foi erguido por Getúlio Vargas e -me foi dito por quem conhece - que segue o modelo de arquitetura fascista. Sinistro... Fora o espanto trazido pelo concreto, suas laterais que dão pras ruas laterais (Araújo Porto Alegre e avenida Almirante Barroso ) contam com enormes janelões, na altura do chão, de cerca de um metro e meio de altura por dois metros e meio de largura, só de boca. Acho eu. E com uma profundidade de cerca de um metro.
E daí?
E daí que esses lugares, durante a noite, viram uma pousada. Esses janelões viram verdadeiras camas. É outra tristeza passar por ali e ver a quantidade de homens com rostos sofridos e cansados, carrengando bolsas e mochilas, armando a cama com papelões, tirando um cobertor sabe-se lá de onde e se preparando pra dormir. Esses, ao contrário daqueles sem paradeiro, parecem ter outra história. Parecem ter trabalho, alguns até têm jornal que, antes de servir pra forrar o chão, deve servir pra leitura.
Lembro ter lido tempos atrás que boa parte da população de rua carioca tinha casa e família, mas não regressavam todos os dias por morarem em lugares distantes no Grande Rio e por lhe ser custoso financeiramente essa ida e volta. Imagina gastar R1,40 de ida e de volta todo dia durante uma semana pra quem ganha salário mínimo e tem mulher, filhos e casa pra sustentar?
É estranho, muito estranho. Ainda mais pq nas calçadas diante dessa 'pousada popular' improvisada param durante a semana carros e carros, muitos deles muito longe de serem populares como meu Ervilhão. Os carrões (ou carrinhos tb, nessa hora tanto faz), pertencentes aos freqüentadores da Pampa Grill, Symbol e demais pontos de pegação da juventude de classe média (eu já andei por esses lugares tb, nao me excluo nessa hora) nos arredores ficam ali, se esfregando na cara da miséria.
Já deu nó na garganta ao passar diante dessa cena mais de uma vez.
A cidade de São Sebastião que tanto me dá orgulho tb tem disso. :-(
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