Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, fevereiro 25, 2003

Porque eu prefiro a Portela


Desfile da Portela ano passado.

É bem usual ver quem não entende lhufas de samba, quem é de fora do Rio e tal dizer "eu sou Mangueira desde pequenininho" achando que a escola é o que há em termos de samba e tradição no carnaval carioca. Discordo em gênero número e grau. Não quero, em momento algum, desvalorizar a escola que é um dos principais referenciais culturais da minha cidade, mas não vejo nela os grandes símbolos que essas pessoas enxergam.

Na minha humilde concepção a maior de todas as escolas de chama Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela e se localiza no bairro de Oswaldo Cruz, entre Madureira e Bento Ribeiro. Entendo que a preferência pelas escola das cores verde e rosa vem de duas coisas: a proximidade da Zona Sul e da parte da Zona Norte onde vive a classe média formadora de opinião, pq neguinho só sabe chegar na quadra da Mangueira, presunçosamente chamada de Palácio do Samba, e, no mááááximo até a do Salgueiro, que fica longe do morro do Salgueiro, inclusive.

Outra coisa que surge farvorável a escola é Cartola, um grande nome, não só para a música carioca, mas a música do Brasil. Cartola, mesmo sem instrução, fez o que quis suas letras e melodias, conquistando ouvidos e corações e até mais adeptos para o samba. Mesmo assim, com todo o respeito, Cartola não é o samba. É parte importante dele, mas nao é o samba.

Blog companheiro, agora vou te explicar porque prefiro a azul e branco de Oswaldo Cruz. De início, a Portela não ganha um título há 22 anos e mesmo assim ainda tem mais títulos que a co-irmã Mangueira. Foi da Portelinha (antiga quadra) e do Portelão (a atual) de onde saíram as maiores cabeças compositoras de samba, além do que foi de lá tb de onde saiu o maior nome do mundo do samba. Vamos por partes, né. Da velha guarda da Mangueira qual é o nome mais conhecido? Nelson Sargento, né. Carlos Cachaça, se foi há poucos anos e o Cartola há mais tempo ainda. E na da Portela? Manacéia, Casquinha e aquele que é conhecido como 'a voz do samba', Monarco. Nem vou futucar numa galera mais antiga e muito menos falar de portelenses do naipe dos falecidos Zé Ketti e João Nogueira, de Zeca Pagoinho, de Paulinho da Viola e seu padrinho Elton Medeiros.

Nesse passado, eu vou puxar o maior nome do mundo do samba chamado Paulo Benjamim de Oliveira, o Paulo da Portela. Esse sim é o cara. O indivíduo que fez a escolas de samba chegarem até uma unidade de organização e fez o governo municipal engolir e gostar dessa parada que era profundamente discriminada pela classe média nos idos dos anos 50, as escolas de samba. Paulo da Portela é o principal personagem que todas as agremiações do mundo do samba devem reverenciar para sempre.

A meu ver, tanto a Portela quanto o Império Serrano perdem espaço para a Mangueira unicamente por conta da distância da quadra das escolas para onde vive a classe média. Em termos de qualidade dos compositores, qualidade dos sambas, história e velhas guardas, não há como apontar vantagem alguma para a Mangueira. Bom, sei que vai ter gente tacando pedra na minha forma de pensar, mas é o que acho. E penso isso tendo crescido entre um pai portelense desde moleque e uma mãe mangueirense desde criança. Mesmo assim sou Mocidade e não abro mão, mas isso é outra história.