Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, dezembro 09, 2002

Madame Satã

Semana passada fui assistir ao filme Madame Satã após um feliz dia de trabalho. Fui amarradão pra ver a história do malandro, preto e boiola que impôs respeito na Lapa do início do século passado. Após ler críticas em que neguinho rasgava elogios ao Lázaro Ramos, fui amarradão atrás do filme. Mas foi uma pena, achei muito meia boma. Achei que o roteiro ficou muito focado na face "bicha atormentada" do João Francisco dos Santos Madame Satã. Pareceu que os caras esqueceram de localizar o que era a Lapa naquele período, o que representou um indivíduo preto, pobre, boiola e analfabeto ganhar moral naquele pedaço do Rio, que mesmo sendo uma parte marginal da cidade, sempre foi freqüentada por gente de todos os níveis sócio-culturais. Acho que o filme poderia ter explorado mais a face de malandro que vivia se virando pra conseguir bancar a si e os seus agregados, se impor como homem (mesmo sendo boiola), se bem que o filme mostra que o João Francisco era uma puta capoeirista e batia com uma facilidade invejável.

E um registro, no filme rola uma cena de sexo homossexual o que me fez sentir que não estou preparado pra esse tipo de coisa. O simples fato de ter amigos queridos que são homossexuais, já ter visto vários marmanjos beijando outros marmanjos não foi suficiente para deixar à vontade diante da cena. Até falei com um amigo meu biba a quem expus o ocorrido, fiquei meio bolado achando que o cara ia dizer que eu estava sendo preconceituoso (bicha adora dizer que os heteros são preconceituosos), mas o amigo-biba disse que era normal e se eu tivesse gostado é que ele veria com outros olhos se eu tivesse saído do cinema com aquilo me enchendo os olhos. Ih, o cara aí.