Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

domingo, dezembro 16, 2007

Elitizar de estádio de futebol?

Há umas semanas ficou rolando aquele papo de elitizar estádios de futebol a exemplo do que acontece na Europa, uns sujeitos defendiam isso como se fosse a salvação dos clubes brasileiros. Curioso foi ter visto o presidente do Corinthians defender essa tese. Será mesmo? Isso funciona? Foi usada uma comparação que me pareceu infeliz. Falou-se como exemplo do desfile das escolas de samba. Pois é, mas isso acontece uma vez por ano e os indivíduos que curtem guardam grana durante um tempo pra poder arcar com o custo extorsivo imposto pela Riotur. Jogo de futebol tem todo domingo, domingo e quarta-feira as vezes. O que leva o sujeito a crer que ele vai ter casa cheia vendendo ingressos a, por exemplo, 100 reais? E olha que tem gente querendo por umas entradas a 200 contos.

Ah, e a galera mais pobre? Esses veriam pela televisão. Ué, mas como se os jogos são transmitidos principalmente por canais de assinatura? Sei não, parece-me que as idéias estão meio tortas, muito, mas muito elitistas. Tenho receio que esse discurso de elitização das arquibancadas vai ser um tiro no pé. Não acredito que Flamengo, Corinthians, Bahia, Fortaleza, Cruzeiro ou qualquer outro time que tenha torcida grande vai justificar os custos de um estádio de futebol mantendo os preços lá no alto.

Óbvio, existe toda uma campanha de valorização do ir ao estádio quando se assiste noticiário na televisão ou se lê as matérias no dia seguinte nos jornais. Isso ficou claro com a babação sobre a torcida do Flamengo durante esse campeonato nacional, existe também todo um barato em ir ao espetáculo e ser parte efetiva do espetáculo, rola a sensação de não ser só espectador, mas ator na festa... mas mesmo assim. Quantos podem ir a tantos jogos seguidos metendo a mão no bolso? Temos uma classe média tão apaixonada e uma alta? Tão afeita ao futebol? Tão disposta a gastar parte considerável dos seus ganhos pra dedicar a uma paixão que lhe traz prazer, emoção, alegria, euforia mas só representa gastos? Tendo a acreditar que o discurso de só deixar quem tem grana ir ao jogos vai ser um tiro no pé.

Existe uma tensão em quem grana e quem não tem nos estádios, isso visível. Observo muito nos jogos do Flamengo. Será que vão detonar a pobretude das arquibancadas? Tomara que não. Minha voz de pouco vale, eu sei, mas vou continuar usando. Na minha concepção, arquibancada de estádio de futebol é uma coisa que deveria ser acessível a todos.

E, uma impressão muito particular... Fui ao jogo Brasil x Equador pelas eliminatórios da Copa de 2010. Torcida basicamente de classe média. Um comportamento mala, chato, sem qualquer peso. No dia seguinte, jogo do Flamengo – e aqui não vou fazer defesa da minha torcida, porque poderia ser qualquer outra que tenha perfil de torcedor de estádio, não de quem vai ver uma peça de teatro, porque são espaços com usos e hábitos diferentes – o calor, a vibração nas arquibancadas era absolutamente outra.