Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sábado, abril 15, 2006

Momento auto-ajuda ou o improvável desfile no Boi da Ilha do Governador

Isso aconteceu na noite de terça-feira de carnaval. Já passou um tempão, mas tava lembrando desse mega e caprichado perrengue bem do jeitinho dos q eu passo. Acho que seria honesto postar nesse blógue pra quem quiser ler. É a prova de que o impossível pode ser atingido.

A história é a seguinte: Terça-feira Gorda é dia de desfile das escolas de samba do Grupo B, o q seria a Terceira Divisão do samba carioca. Um amigo tem uma ala no Boi da Ilha, simpática agremiação da Ilha do Governador, que levaria de novo para a avenida o enredo “O Amanhã”. Aquele mesmo, “o que será o amanha? Responda quem puder”.

Era a primeira escola a desfilar, era cedinho. A fantasia era baratinha, o samba já conhecido. O desfile seria perfeito. Um perfeito encerramento do carnaval 2006 quando também desfilei na Acadêmicos de Santa Cruz e na minha Mocidade Independente.

Sai de casa, tranqüilo, rumo ao sambódromo e tal. Estava certo que o desfile seria 20h e já estava na Brasil às 18h30. Liguei pro amigo pra falar que já estava na pista, quando ele deu a informação bomba. O desfile seria 19h. AAAAAHHHHH!!!! Eu estava em Guadalupe, a 20 km de distância do sambódromo, ainda teria q arrumar lugar para parar Ervilhão e por a fanstia.

Liguei para amiga na hora pra dar a informação. Ela nem em casa estava, iria voltar correndo. Perrengaço!!!

Esquecendo o risco

O mané ficou com o pé pesado e saiu varado pela Avenida Brasil. Não vou postar a velocidade média para não registrar a infração, mas corri muito.

No caminho, toca o molecular. O camarada, lá da concentração, diz que o a concentração da escola não é onde ele havia falando antes, está do lado oposto. Não é nada, não é nada, dá uma diferença de 1.500 metros pra ser feita andando. Ainda bem q eu estava frenééééééééééético na pista.

Pisando feito um louco mal via que ultrapassava carros, caminhões e ônibus. E a saga continuou. Liguei para a companheira de desfile, ela pediu para passar na casa dela. Bom, um lascado, dois lascados juntos. Na pior das hipóteses iríamos para a Lapa encher os cornos de cerveja e comemorar nosso primeiro desfile perdido na vida.

Faltando pouco mais de dez minutos para o horário marcado para a entrada do Boi no sambódromo passei na casa da criatura, na Tijuca, e fiz o carreto. Etapa um da missão impossível tinha sido cumprida. Faltava chegar a algum lugar próximo e parar o carro.

Peguei o Rio Comprido e depois o Catumbi. Fiz a volta por trás do Centro e fui me enfiando. Em dado momento entrei em uma rua bloqueada, a Rua de Santana (paralela a Marques de Sapucaí) dizendo q era morador. No perrengue vc fala qq coisa. Parei Ervilhão perto da entrada da concentração, que não é na entrada do sambódromo - existe um portão q fica a algumas centenas de metros para evitar que os componentes se misturem, saiam da formação e tudo mais.

Deixei o carro do lado da Igreja de Santana, um flanelinha chegou pedindo dinheiro. O desenrolou foi o mais rápido da minha vida. Joguei logo que minha escola tava entrando àquela hora na avenida. Hehe, o cara se emocionou logo e me mandou correr que já rolavam alguns fogos. Começamos a correr com a fantasia na mão.

Após uma carreira chegamos ao portão. E lá ia correndo, correndo, correndo. O desfile já havia começado, os carros alegóricos já entravam na avenida.

Liguei pro camarada e ele disse pra correr que dava tempo, a ala ainda não havia entrado há área de desfile.

A cena foi a mais estranha que já vivi. Eu, com a fantasia na mão, correndo atrás da escola que entrava amarradona para seu desfile, já cantando o samba, feliz, curtindo.

Alcançamos a ala. Um diretor de harmonia veio falar: “não corre, entra desfilando!” Ah, ta. E eu sem fantasia. A outra se vestiu rapidinho, era só uma ombreira, duas perneiras, um saião, dois adereços para os braços e o chapéu.

Ela pôs a fantasia e foi. Eu, pra variar, fiquei embananado. Foram segundos desesperadores. Eu só via a ala minha caminhando para a frente, a ala de trás se aproximando. Não registrei o toque da bateria, o samba sendo cantado nada.

Com muito custo e alguma ajuda deu certo. Estava composto. Pus o chapéu errado, que caiu algumas vezes.

Pouquíssimos metros antes da linha amarela onde se lê “Início” e marca de foto o começo do desfile consegui chegar a ala. O suor marcava todo o esforço que foi pra chegar ali. Após respirar fundo algumas vezes deu pra recuperar o controle e começar a cantar.

Foi o desfile mais solto, mais desencanado, mais gostoso. O melhor. Ano q vem tema mais Vicente no Grupo B. Só que vou tomar mais cuidado com o horário pra não ter que fazer o impossível como nesse ano.