Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Vamos começar outra vez

Aí, foi rápido. Após a segunda tentativa a coisa se resolveu em apenas 30 minutos. Achei o burocrata certo que resolvia a parada. Falei com ele e o criaturo me pediu pra esperar. Novidade, eu já tava cansado era de esperar. Mas fiquei lá. Apareceu um cara de uns 30 e poucos anos. Calado eu estava, calado fiquei. E como nada falava, ouvia e acompanhava o q acontecia ao redor... O indivíduo, com cara de derrotado, trazia consigo o nome de uma mulher e procurava nos livros de óbito. Procurava sem qq referência. “É minha irmã, não a vejo há 29 anos. Já a procuro há cinco anos”. Olha a situação: o cara tem um nome de muher, procura um possível registro de óbito. Não sabe livro, não sabe folha, não sabe ano, não sabe se o registro foi feito naquele cartório e, pior, nem sabe se morreu. Loucura. Um dos dramas mais comoventes que já vi na vida. E eu era um reles espectador mesmo.

O cara foi pro lado com uma pilha de livros procurando o nome da irmã. Eu nem sabia se torcia pra ele encontrar ou pra não encontrar.

Enquanto ficava mais por lá. Pintou uma criança. Criança, contando que não chore, é uma fofura. Uma menininha de dois ou três anos veio olhar e sorrir pra mim. Brincou, fez gracinha. Eu notei algo diferente nela. Olhei direito e não deu outra, a menina era estrábica. Vesguinha, vesguinha. Ai, q sensação de pena... Pai e mãe não pareciam nem um pouco preocupados com aquilo. E criança vesga, ao menos pra mim, não é a coisa mais legal do mundo de se ver. Dá a impressão que ela não sabe ao certo o q está vendo.

Como prêmio a declaração saiu quando completei 1 hora e 10 minutos no cartório. Missão cumprida.