Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Uma feliz manhã no cartório

Achando que abria às 8h, cheguei no referido estabelecimento já perto das 9h. Não havia ninguém nem fila. Entrei. Entrei e perguntei pelo sujeito que inicialmente havia sido comunicado que deveria procurar. A resposta foi “ih, ele é o primeiro escrivão, ainda não chegou”. Senti um cheiro de perrengue no ar. Disse que precisava de uma averbação pra isso por conta daquilo e pronto. O cara, com uma camisa de botões e sem gola, uma calça de risca de giz e aquelas sandálias que deixam os dedos aparecer, chamou alguém pra tentar me ajudar.

Deu 9h e várias velhinhas entraram. Eram oito e me senti o maior fura olho do mundo. Sem saber eu achava estar furando fila das senhoras. Eu, sem saber, por uma porta que não era a principal. Além disso, meu objetivo lá era totalmente diferente das delas (procurações e declarações).

Passavam os minutos e ia entrando gente pra pedir procuração, certidão, autenticação eu lá só querendo a averbação...

Pra diversificar adentra um vendedor de bananadas e doce de leite. Vendedor dentro do cartório??? Bom, do mesmo jeito q entrou, saiu. Mas ficou o susto. E foi só o cara das mariolas sair, entrou um senhor zarolho com uma muleta segura no braço direito. Ela ia e voltava dando a impressão que sempre no próximo passo se apoiaria na muleta. Não, andou pra tudo quanto foi lado com a muleta e não a apoiou no chão em momento algum. Eu, hein.

Já dava uns 20 minutos esperando a benevolência de alguém naquele mar de burocracia quando comecei a ouvir a primeiras vozes do dia bradando contra a necessidade de documento disso e daquilo. Bom, estávamos dentro do templo da burocracia, nada mais contextualizado.

Com 40 minutos lembrei q estava esperando um retorno do tal senhor de calça de risca de giz e sandálias, já tinha me cansado da imersão nas conversas das senhoras que não conseguiam lembrar se haviam estado ali ontem ou anteontem. Ah, o sujeito informou que NÃO faziam aquilo? Ué, como não? Procurei me informar e percebi que estava fazendo caquinha, tava pedindo uma parada errada. Eu não precisava da tal averbação, precisava de uma declaração. Ah, tá.