Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, agosto 26, 2003

Querem criar um herói

O nobre companheiro Sergio Vieira de Mello passou dessa pra melhor (espera-se) após o atentado semana passada em Bagdá. Todo mundo sabe, todo mundo viu. Todo mundo tb ficou chocado com a situação, com a brutalidade e com a morte do diplomata.

O nobre companheiro, alto comissário da ONU, vivia pelo mundo e, segundo o q os meios de comunicação propagam, era um cara de conversa, negociação e que acreditava nos direitos humanos.

Até aí morreu neves, segundo o perfil traçado pela imprensa, Vieira de Mello era um cara bom e trabalhador. Como não tenho outra fonte de informação a respeito, cabe-me acreditar. Mas o q começa a me incomodar são as incansáveis matérias promovendo uma 'heroificação' do diplomata.

Uma matéria em especial, do Fantástico na realidade, incomodou-me em especial. O que foi aquilo de explorar da forma mais baixa e sensacionalista possível o romance do cara com a argentina funcionária da ONU? Pô, se querem mostrar o cara como herói (e mesmo se nao quisessem), tenham respeito, né. Fizeram um dramalhão, um exploração das mais baixas da informação. Acredito que queriam dar o tal 'diferencial' na cobertura, mas pera lá. Tenhâmos limite. Acho que são essas coisas que queimam o filme dos jornalistas, esse uso irresponsável das informações.

Bom, voltando, todas as matérias dão conta do grande compromisso com a humanidade, do caráter íntegro e do espírito trabalhador do cara. Tudo bem, é normal que todo mundo, quando morre, seja apontado como pessoa de bem (vide o recente caso do Roberto Marinho que insistem em dizer que foi uma pessoa boa. Ahan), mas o que nao concebo é a colocação de sua imagem como um herói brasileiro.

Há pouco, li uma matéria no Globo.com (essa aqui), onde os caras descrevem 'os momento heróicos' que vieram antes da morte do diplomata. Ah, tenha dó...

Não se leva em conta que o diplomata nem vivia no Brasil há anos. Tá, tá bom. Falava português, era carioca e tal, mas nem enterrado em solo brasileiro vai ser! Seu sepultamento vai rolar em Genebra, onde realmente viveu.

Tava eu pensando com meus botões, deve ser a falta de heróis nesse país, né. O último herói que a aura de herói na íntegra * foi o Airton Sena, espatifado em um muro; depois dele tentou-se colocar o Guga, que é um deus em Floripa, mas só em Floripa; aí veio o Ronaldo Nazário que anda meio sumido ultimamente no Real Madrid; o volêi deu vexame no Panamericano e o Bernardinho perdeu seu posto de grande líder; e os demais esportes não têm tanta repercussão. É relativamente fácil a fabricação de heróis no esporte, mas se nao rola o carisma necessário, já era.

E veio agora esse povo querendo criar um herói político, que nao tem indentificação com o povo do país. Não digo que nao se deva admirar o cara, visto que chegou a uma posição de destaque, mas herói? Sei não... Exagero.

* O texto foi mudado graças a um bico na canela dado pela Chris.