Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, junho 23, 2003

Eu só queria começar bem a semana...

Como a vida faz judaria com a gente, né. As vezes não tem pra onde fugir, nem como correr. Ontem a noite dormi cedo, pra acordar cedo na manhã de segunda-feira e, obviamente, chegar cedo no trabalho. Tudo deu errado. Até a parte de acordar, tomar banho, tomar aquele leitinho com nescau esperto, ler o jornal, ver o telejornal local matinal e sair de cada, tudo sobre o mais perfeito controle.

Foi só chegar ao ponto pra pegar a condução e... 50 minutos de espera. Ruim? Não, ainda ia piorar. Assim que entrei na simpática van saquei o livrinho sobre o Afeganistão que tava na lista pra ser lido e vim. Coisa de umas 110 pagininhas, coisa pouca. Foi só a condução chegar na Avenida Brasil que a velocidade do carro diminuiu drasticamente... E lá eu lendo pra esquecer do interminável engarrafamento.

Sei que é mais uma lamentação de um jovem trabalhar suburbano, mas um sujeito que se prontifica a trabalhar pra sobreviver honestamente não pode levar três horas no trajeto pro escritório. São 180 minutos perdidos. Foram quase duas horas de atraso por conta do trânsito lento. Agora, houve acidente? Nada além do normal. Deve ser excesso de carros mesmo.

O pior é que lendo o tal livrinho ("O Afeganistão"), um texto do cineasta iraniano, Mohsen Makhmalbaf, que filmou aquele filme "A caminho de Kandahar", fiquei com vergonha de achar que eu tava sofrendo. Esse meu drama pra começar uma semana de trabalho não é nada versus nada diante do relato lido sobre a tragédia que é a situação afegã. Os caras têm tudo contra o seu desenvolvimento, a geografia, a história, a cultura... Que horror.

Tá bom, sofri à vera pra chegar aqui e já ocupei minha baia sentindo-me meio mastigado, mas graças ao bom Deus (que é brasileiro), sou carioca e vivo na cidade mais sangue bom do mundo.

O pior é que cheguei antes de terminar o tal livrinho triste... Faltam menos de dez páginas pra eu terminar de sofrer só imaginando o sofrimento mór do povo afegão.