Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, abril 28, 2003

E eu reclamando da vida...

Na noite de sexta-feira, após saltar do famigerado 393 e enquanto caminhava para casa resmungando pra mim mesmo, percebi que eu era seguido de perto por uma pessoa. Como vi de relance que era um senhor bem menor que eu e estava com o uniforme de empresa de ônibus, concluí que vinha da garagem próxima, da Empresa Feital.

Após caminhar alguns minutos com o coroa próximo e já achando que, por ser um lugar meio escuro, ele queria ter alguém por perto por conta de sugir alguém pra lhe dar um 'ganho'. Repentinamente ele puxou assunto. Até aí, td bem. Eu ainda seguia reclamando da vida pra mim mesmo.

Vi que era realmente um cara bem simples, um senhor de 1,60m, entre 50 e 60 anos, com o cabelo lambidão, óculos de armação bem grossa e preta. E o coroa começou a falar.

Pô, vim aqui hoje pegar meu pagamento e não recebi. A empresa disse que não tem pra pagar. Normalmente eles pagam no dia 5 e dão um vale no dia 20. Mas hoje, dia 25, não tem nada. Nem vale. Disseram que não vão me dar vale porque deixei de trabalhar seis dias. O pior é que eu não trabalhei pq não tinha carro (ônibus) pra eu ir pra rua.

E agora? Que que eu vou fazer ao chegar em casa com essa cara lambida e falar pra minha mulher que não recebi?

Difícil viver assim, né. Se eu tivesse um pessoal, juntava no dono dessa empresa e dava uma surra nele.

Bom, desculpa ter te incomodado, eu só queria falar com alguém e pôr isso pra fora.


Foram pouco mais de 50 metros andando lado a lado com o senhor, mas fiquei mais triste ainda. Diante disso, pra que eu ia reclamar da vida? O cara tão perto e mais lascado que eu. Bom, ao menos naquele de repente deu pra ajudar no mínimo que ele queria, só ser escutado. Ainda fico chocado como tem gente espezinha os trabalhadores dessa forma.