Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, novembro 19, 2002



Toda a cidade ainda continua falando na tal história do Pedrinho, moleque que foi roubado da maternidade há 17 anos e criados por pais adotivos. À primeira vista me parece estranho tanto interesse por algo que, no fim das contas, só é importante para as famílias envolvidas e, mesmo assim, acaba ganhando primeiras páginas seguidas não só no DF, mas em outras praças.

Mas após isso eu me toquei. Em 1986, quando o seqüestro rolou, foi um assunto que mobilizou o DF, todos ficaram chocados e preocupados com a história da mãe que foi à maternidade, deu a luz e nunca mais viu seu filho. O caso voltou à tona várias vezes em outros momentos com possíveis Pedrinhos encontrados, mas nenhum deles acabou sendo o verdadeiro. Só agora, nesse novembro de 2003 é que o verdadeiro Pedrinho, hoje Oswaldo Jr., foi encontrado. A população brasiliense se sente naturalmente interessada e até envolvida pela história que aprendeu a acompanhar a cada novo episódio. Além de ser uma coisa que remete a uma novela, com roubo de criança, pais trocados, dramas familiares, mulher que roubou filho dos braços da mãe verdadeira e tal.

Mas e agora? O moleque já tá formado, é quase um adulto. O que fazer com ele? Mal consigo imaginar o que deve se passar na sua cabeça, ainda mais com as recentes acusações da Polícia Civil sobre a mãe 'adotiva', a D. Vilma. Pior, agora que a mãe biológica abriu o verbo e mandou na lata que foi a própria Vilma que roubou o neném dela.

Situação hard demais pra cabeça de um carinha que só tem 17 anos e tá vendo, bem aos poucos, que a mulher que o criou na realidade não é aquilo que lhe mostrou durante esses quase 20 anos, mas alguém capaz de roubar uma criança simplesmente cagando e andando pros verdadeiros pais. Se for mesmo provado que a Vilma meteu (meter = roubar na gíria dos subúrbios cariocas) o moleque na maternidade, aí a Justiça deveria ter um dispositivo pra puni-la. Eu nao sou Justiça, eu nao sou Polícia, sou só um malandro carioca perdido por aí, mas a história do seqüestro feito pela própria mãe de criação está cada vez mais concreta, ainda mais com o que o casal que criou o moleque fez após tê-lo conseguido, como dizem, dado por uma mulher... Ainda mais agora que ela, a Vilma, chegou na hora do depoimento da Polícia e disse que só depõe em juízo. Sei não, parece que tá devendo. Caso contrário, podia ter aberto o verbo por lá.

Olha eu já julgando os outros... Mas nao formar opinião acompanhando as coisas assim é meio difícil, né.

Bom, que a história termine de forma menos traumática pro Pedrinho-Oswaldo. Que a Força esteja com ele.

PS: A imagem lá no alto é da capa do Correio Brasiliense, o maior jornal da localidade.