Minha pobretude em questão
Assim como minha pretitude tem sido questionada por pessoas muito mal intencionadas, minha pobretude tb entrou nesse rol que coisas dubitáveis. Há pouco ouvi a frase de uma colega, que auto-intitulou-se "um personagem saío das novelas de Manoel Carlos". Ela disse "já conheci gente que tira onde de rico sem ser, mas tirar onda de pobre sem ser pra mim é raro". Procuro não acreditar que o sujeito em questão seja eu, mas por via das dúvidas tasco um pedaço da coluna do figuraça e colunista do Globo, João Ximenes Braga. Esse trecho foi publicado na última coluna, que saiu sábado.
Segundo a teoria revolucionário do Ximenes, sua classe social é inversamente proporcional a quanto você gasta numa festa, ao menos no Rio. Na qualidade de pobre convicto, quando faço festa em casa faço questão q nenhum furingudo, digo, convidado leve qq coisa. Quero todos saiam chapados e empanturrados a ponto de vomitar. Mas que nao vomitem na minha casa, né. O texto tem link pra coluna dele por completo.
Festa
Um tio sábio, que morreu pobre e ainda por cima pobre, costumava dizer: “Quem nasce pra tatu, morre cavucando.” Mas será só o destino que faz de alguém rico, pobre ou classe média? Começo a traçar uma tese revolucionária a respeito: pelo menos no Rio, sua classe social é inversamente proporcional a quanto você gasta numa festa.
É verdade que não freqüento festa de rico. Às poucas que fui, estava com um bloquinho na mão e um crachá no peito. Mas há pouco tempo vi-me como acompanhante de uma convidada à festa de um homem muito, muito rico (herdeiro, namora modelos, aparece em revistas de sala de espera de médico), e descobri, chocado, que não havia serviço. Nem um canapê. Nem um garçom com água. Só fila para dois estandes patrocinados por marcas de bebida alcoólica. Única conclusão possível: o cara é rico porque, quando dá uma festa para aparecer nas colunas sociais, arruma patrocínio, e o que economiza em uísque e champanhe deve estar aplicado no mercado financeiro.
Já pobre… Pobre, vocês sabem, quando dá festa é um tal de gastar uma dinheirama em feijão, maminha, cerveja, brigadeiro, e ainda fica ofendidíssimo se os convidados não saem de lá empanturrados. Essa gentinha…
E a classe média? Essa gasta medianamente: compra pães, frios, pastas. Mas todo mundo contribui com a bebida. Aí chegamos à típica festa do carioca classe-média-zona-sul entre os 20 e poucos e os 30 e tantos anos. O convite, feito por telefone ou e-mail, sempre traz duas ressalvas: 1- “Tô pedindo pras pessoas trazerem bebida, sacumé, né?, nessa crise…”; 2- “Claro, você pode chamar quem quiser, é só trazer mais bebida.”
Afinal, se cada um traz seu farnel alcoólico, por que impor limites? Mal sabe o festeiro, contudo, que ao mencionar o item dois ele acaba de comprar seu tíquete para o inferno. Pois ignorou o fator Baixo Gávea.
É fato comprovado por pesquisas: em toda festa na Zona Sul, sempre há pelo menos um convidado que passa antes no Baixo Gávea. Ele encontra um conhecido. Comenta sobre a festa: “É só levar cerveja.” O efeito multiplicador é avassalador. Não só porque os conhecidos vão comentar com outros, mas os desconhecidos vão entreouvir a conversa e decorar o endereço.
Resultado: às duas da manhã, o Baixo Gávea inteiro está na sua casa. Com um detalhe: quem não conhece o anfitrião n-u-n-c-a leva bebida. “Vou só dar uma passada, se estiver ruim eu volto da porta, então pra que comprar bebida?”, pensa. Às 2h45m, a cerveja acaba e o melhor amigo do dono da casa passa o chapéu para comprar mais. Mas os penetras, que já decidiram ficar na festa, não contribuem. Às 3h13m, um engraçadinho que não sabe mexer no mixer estoura as caixas de som e sequer pede desculpas. Às 3h48m, há uma fila enorme no banheiro, porque tem gente usando o cômodo para fins diversos. Às 17h24m, o dono da casa acorda e vê que as paredes têm marcas de sola de sapato. Vidros de perfume e CDs foram roubados. Sem falar no corpo inanimado no sofá.
E voltando ao tatu… O problema é que há uma ala de cariocas que, quando se trata da casa alheia, segue outra máxima: “em caminho de paca, tatu caminha dentro”.
Assim como minha pretitude tem sido questionada por pessoas muito mal intencionadas, minha pobretude tb entrou nesse rol que coisas dubitáveis. Há pouco ouvi a frase de uma colega, que auto-intitulou-se "um personagem saío das novelas de Manoel Carlos". Ela disse "já conheci gente que tira onde de rico sem ser, mas tirar onda de pobre sem ser pra mim é raro". Procuro não acreditar que o sujeito em questão seja eu, mas por via das dúvidas tasco um pedaço da coluna do figuraça e colunista do Globo, João Ximenes Braga. Esse trecho foi publicado na última coluna, que saiu sábado.
Segundo a teoria revolucionário do Ximenes, sua classe social é inversamente proporcional a quanto você gasta numa festa, ao menos no Rio. Na qualidade de pobre convicto, quando faço festa em casa faço questão q nenhum furingudo, digo, convidado leve qq coisa. Quero todos saiam chapados e empanturrados a ponto de vomitar. Mas que nao vomitem na minha casa, né. O texto tem link pra coluna dele por completo.
Festa
Um tio sábio, que morreu pobre e ainda por cima pobre, costumava dizer: “Quem nasce pra tatu, morre cavucando.” Mas será só o destino que faz de alguém rico, pobre ou classe média? Começo a traçar uma tese revolucionária a respeito: pelo menos no Rio, sua classe social é inversamente proporcional a quanto você gasta numa festa.
É verdade que não freqüento festa de rico. Às poucas que fui, estava com um bloquinho na mão e um crachá no peito. Mas há pouco tempo vi-me como acompanhante de uma convidada à festa de um homem muito, muito rico (herdeiro, namora modelos, aparece em revistas de sala de espera de médico), e descobri, chocado, que não havia serviço. Nem um canapê. Nem um garçom com água. Só fila para dois estandes patrocinados por marcas de bebida alcoólica. Única conclusão possível: o cara é rico porque, quando dá uma festa para aparecer nas colunas sociais, arruma patrocínio, e o que economiza em uísque e champanhe deve estar aplicado no mercado financeiro.
Já pobre… Pobre, vocês sabem, quando dá festa é um tal de gastar uma dinheirama em feijão, maminha, cerveja, brigadeiro, e ainda fica ofendidíssimo se os convidados não saem de lá empanturrados. Essa gentinha…
E a classe média? Essa gasta medianamente: compra pães, frios, pastas. Mas todo mundo contribui com a bebida. Aí chegamos à típica festa do carioca classe-média-zona-sul entre os 20 e poucos e os 30 e tantos anos. O convite, feito por telefone ou e-mail, sempre traz duas ressalvas: 1- “Tô pedindo pras pessoas trazerem bebida, sacumé, né?, nessa crise…”; 2- “Claro, você pode chamar quem quiser, é só trazer mais bebida.”
Afinal, se cada um traz seu farnel alcoólico, por que impor limites? Mal sabe o festeiro, contudo, que ao mencionar o item dois ele acaba de comprar seu tíquete para o inferno. Pois ignorou o fator Baixo Gávea.
É fato comprovado por pesquisas: em toda festa na Zona Sul, sempre há pelo menos um convidado que passa antes no Baixo Gávea. Ele encontra um conhecido. Comenta sobre a festa: “É só levar cerveja.” O efeito multiplicador é avassalador. Não só porque os conhecidos vão comentar com outros, mas os desconhecidos vão entreouvir a conversa e decorar o endereço.
Resultado: às duas da manhã, o Baixo Gávea inteiro está na sua casa. Com um detalhe: quem não conhece o anfitrião n-u-n-c-a leva bebida. “Vou só dar uma passada, se estiver ruim eu volto da porta, então pra que comprar bebida?”, pensa. Às 2h45m, a cerveja acaba e o melhor amigo do dono da casa passa o chapéu para comprar mais. Mas os penetras, que já decidiram ficar na festa, não contribuem. Às 3h13m, um engraçadinho que não sabe mexer no mixer estoura as caixas de som e sequer pede desculpas. Às 3h48m, há uma fila enorme no banheiro, porque tem gente usando o cômodo para fins diversos. Às 17h24m, o dono da casa acorda e vê que as paredes têm marcas de sola de sapato. Vidros de perfume e CDs foram roubados. Sem falar no corpo inanimado no sofá.
E voltando ao tatu… O problema é que há uma ala de cariocas que, quando se trata da casa alheia, segue outra máxima: “em caminho de paca, tatu caminha dentro”.
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