Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, julho 28, 2003

Ser mané é

Sair de casa com o Ervilhão. Rodar, rodar, rodar e só perceber que está com o documento do carro quando Irmão-Léo liga pra avisar.

Abusado que sou, estava na Abolição, Zona Norte, e me neguei a voltar até Bangu, na Zona Oeste, pra depois pegar o caminho de Laranjeiras, na Zona Zul. Se gasolina cai do céu pra alguém, não cai pra mim. Resolvi encarar o perrengue.

Confesso que amarelei com medo de ser parado numa blitz e ter que falar a verdade com cara de caô pra um policial.

Na volta para Bangu, mais medo.

Após descer do elevado São Sebastião e pegar a Presidente Vargas na altura do sambódromo o que encontro? Uma blitz. Lá fui eu no procedimento padrão: luz interna acesa, farol baixo, carro em marcha lenta e mãos sobre o volante... Fui no sapatinho torcendo pra minha cara de traficante não chamar atenção dos boinas azuis do Getam...

Passei.

Peguei a Francisco Bicalho e depois a Avenida Brasil. Continuei no sapatinho pra não chamar a atenção. Nunca tentei passar tão discretamente na Avenida Brasil.

Após já achar que tava com o jogo ganho. O que acontece? Outra blitz. Pensei pra mim mesmo "perdi, dessa eu não escapo. É melhor ir preparando o caô pra mandar pro policial".

Procedimento padrão outra vez... Agora, tava eu realmente com medo. Tava devendo, né. Com o documento do carro de Seu Carlos no bolso em lugar do documento do Ervilhão...

Os papa mikes me olharam cheios de disposição... Era o Getam outra vez. Passei por um policial, por dois, por três, ninguém apontou pra mim pedindo pra encostar. Quando passei pelo quinto e não tinha mais ninguém dei uma acelerada. Confesso que ali dei uma pisada pra me afastar.

Chegando em Realengo, onde as vezes tem outra blitz, gelei. Pô, isso seria abusar demais da sorte e passar batido em três duras da PM seria o cúmulo...

Não tinha blitz, me safei.

Cheguei em casa, sapatíssimo, sem fazer barulho. Mas da última dura não escapei. Seu Carlos, num momento alma penada, vagava pela casa e me deu um belíssimo esporro bônus pela falta de atenção que podia ter me rendido uma honestíssima multa.

Bom, ao menos nao rodei. E, blogue, fala sério, suburbano sem sorte já nasceu morto.