Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sexta-feira, junho 06, 2003

E Deus criou o Céu, o Purgatório e o 393

Todo santo dia a volta para casa não é exatamente um prazer. Existe um 393 no meio da história, o veículo que me leva do Centro da cidade até o aprazível bairro de Bangu, a pelo menos 35 km de distância.

O referido número é o do ônibus que faz a linha Castelo - Bangu. E Castelo não é uma construção de pedra, mas o local onde está o ponto final e onde, há algumas centenas de anos Estácio de Sá construiu de verdade um castelo quando fundou a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

O castelo não existe mais, o morro também não existe mais, mas o lugar existe, é a Avenida Antônio Carlos onde fica uma penca de prédios de ministérios, herança de quando éramos a capital federal.

Nessa avenida com três largas pistas passa boa parte dos ônibus que chegam da Zona Sul e que vão em direção a Praça XV, logo é uma mafuá de carros e ônibus que assusta.

Além da quantidade de carros, ônibus, buzinas, vans, camelôs, passantes que vêm e vão, o 393 possibilita algo bem peculiar. Consegue ter SETE filas de espera. SETE!
Uma,
duas,
três,
quatro,
cinco,
seis e
SETE.
Se cada uma das filas tiver 50 pessoas, teremos cerca de 350 pessoas na esperança de subir num maldito desses? É, né.

Hoje em dia existe uma diferenciação dos 393: o Rápido (que vai direto pela pista seletiva da Avenida Brasil e só pára em ponto em Irajá), o Expresso (que vai um pouco além do Rápido e só pára em Guadalupe, prestes a deixar a Brasil), o parador (que pára em todos os pontos do mundo entre o Castelo e Bangu!) e o Ar Condicionado (que é como o rápido, mas é R$1 mais caro). O com Ar é novidade recente, com cerca de um ano, acho.

Já cheguei a ficar uma hora e meia nessa fila, hoje opto por gastar o real a mais e pegar uma fila menor.

E a penúria não acaba após entrar no ônibus. A Antônio Carlos acaba pouco metros a frente afunilando e desenbocando na Rua 1º de Março (aquela onde caiu um prédio ano passado) onde o engarrafamento continua e se repete na Presidente Vargas, na Francisco Bicalho, na Avenida Brasil (no Caju, na entrada da Rio-Petrópolis e na entrada da Rio-São Paulo).

Depois disso é fácil. O que dói é pegar isso todo santo dia. Por baixo, custa ao passageiro uma hora para chegar em casa. Quando o engarrafamento é sinistro... bom, melhor nem pensar...

Sem dúvida é o que entendo por inferno.