Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, janeiro 06, 2003

Elocubrações políticas

Seu Carlos x Carlista

Seu Carlos, meu respectivo pai, odeia com todas as suas forças o senhor Toninho Malvadeza. Pois bem, nessa ida para a santa cidade do Rio de Janeiro, levei comigo meu camada nascido e criado no estadon onde o supracitado senhor do mal é rei. O que esperar? Claro que o Baiano era carlista.

Como passei boa parte do meu circulando pela cidade ou repousando pra sair durante a noite, Baiano deu umas circuladas com Seu Carlos quando tomaram cerveja e falaram sobre sei lá o quê. Não presenciei o momento da tal confissão feita a meu pai, mas queria muito ter visto a reação dele. Provavelmente Seu Carlos deu um pulo para trás e perguntou “por que, Baiano?”. A parada é tão sinistra que o companheiro nordestino até se refere ao novamente eleito senador da República como ‘padrinho’. Pior, o sobrenome dos caras é o mesmo.

Eu mesmo fiquei pensando como eu pude levar um carlista pra dentro da minha casa, mas como bom cristão e respeitador da diversidade, caiu a ficha. A gente mora numa democracia. É obrigação de quem opta por esse tipo de regime respeitar outra visão política diferente da nossa. Palmas para o Seu Carlos que mesmo sem ser um doutor tem posturas para as quais tiro o chapéu. Além de conversar mais interessadamente com o Baiano, procurando entender porquê um jovem universitário de 25 defende ACM, ainda fez o meu companheiro carlista sentir-se em casa.


Esquerda que se racha

Mas, por outro lado, já aqui no Distrito Federal senti o outro lado da moeda. Maysão, adorável figurinha pernambucana que tb veio participar da posse do Lula, ficou hospedada em uma cidade satélite um pouco distante do Plano Piloto. A furinguda só me ligou no fim da tarde da véspera de sua partida, pouco antes de eu entrar no cinema para assistir o segundo filme da trilogia “Senhor dos Anéis”, que não é propriamente um filme curto. Acabado o filme, desci praticamente todo o DF na direção sul para encontrar Maysão, que não deve chegar a 1,60 m de altura. Mayse e seu respectivo são figuras do Partido Comunista do Brasil, o PC do B, antigo Partidão.

Na época de estudante tive má vontade com os companheiros comunistas, mas com um pouco de maturidade isso acaba indo por água abaixo e vemos que nossos objetivos e formas de entender o mundo tem muito mais pontos comuns que diferenças. Diante disso, confesso ter me sentido meio acuado quando cheguei para visitar a pernambucana. Seus amigos, todos do Antigo Partidão, tomaram o Vicente pra Cristo na história simplesmente por preferir acreditar no Partido dos Trabalhadores e ter feito parte da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social (Enecos), na qual o PC do B nunca conseguiu se impor, ao contrário da UNE. No fundo, somos todos socialistas, mas eles não entenderam assim. Pior, por estarem em maioria ainda quiseram acuar o mané do Vicente. Tudo bem que Maysão e seu respectivo estavam do meu lado, mas a situação foi no mínimo chata.

Maysão pediu desculpas pelo incidente e nem precisaria ter feito isso, pq sei que isso não foi sua culpa, mas voltou a me dar a impressão que existem certos grupos que ainda são muito fechados, meio que vivem em guetos e fomentando essa richa partidária entre a própria esquerda, justo num momento em que todos devíamos pensar em fazer parte de uma coisa só e não ficarmos alimentando as diferenças como nesse caso.