Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, janeiro 06, 2003



Posse de Lula Presidente, eu tava lá!

Pena que já se passaram cinco dias, mas tenho o dever cívico de registrar a posse de Luis Inácio. Não pude votar nele no segundo turno, tava aqui, fora do meu domicílio eleitoral, mas mesmo sem meu voto o homem venceu. Voltei correndo pra participar da posse, que foi emocionamente, mas chorei menos do que eu esperava.

Na tarde do dia 1º de janeiro, lá estava eu com meu kit posse que incluía lenços verde e amarelo, camisa e pra completar ainda viabilizei uma bandeira pra usar como um sarongue.

Existe controvérsia sobre o público, uns dizem que foram 70 mil pessoas, enquanto outro falam em 200 mil. Eu, particularmente, acredito nos 200 mil. Pena que as pessoas não têm muita noção do tamanho da Esplanada dos Ministérios, que estava toda tomada por um mar vermelho de pessoas com camisas e bandeiras. Era gente que não acabava mais, 70 mil era pouco. E 200 mil é praticamente dois Maracanãs lotados. Foi verdadeiramente uma festa popular.

Os créditos do meu celular brasiliense se acabaram e fiquei sem ter como ligar pros camaradas, inclusive pra Mariana que prometi contatar, mas fiquei sem graça de mandar uma ligaçãozinha básica a cobrar. Resultado: ficamos eu, Tuninha e Baiano, o meu segurança.

Ao mesmo tempo que era uma muvuca, com gente pra todo o canto, brasileiros de todos os cantos - tinha até gente com bandeira do Acre! Não que eu acredite que o Acre exista de verdade, mas que tinha um cara ou entidade da floresta com uma bandeira do Acre... ah, isso tinha que eu vi - foi uma muvuca de grande civilidade. Tanto que não houve registro de qq tipo de incidente como agressão ou roubo e isso e meio a 200 mil pessoas.

Vi Lula passando no carro aberto ao lado do vice, que me parece um boneco as vezes. Chorei só uma vez, mas chorei muito, como uma criança. Foi justo na hora em que o hino nacional tocou pela primeira vez já com o Lula empossado presidente. Momento que vou levar pra frente gravadinho aqui dentro da memória.

Choveu, fez sol, teve discurso de mais de uma hora, empurra-empurra, mas nada me fez sair dali. Foram, pelo menos, cinco horas de pé, com a estrela no peito e a bandeira nas mãos. Valeu a festa, valeu ter visto tanta gente feliz como eu e tão cheia de esperança.

Mesmo amarradao, teve uma coisa que não me agradou: a forma como o povo trata o Lula como um pop star. O grande barato de tê-lo no poder é que ele é povo, é como nós, não representa industriais ou oligarquias e a população o trata como um semideus... Sei lá, gosto disso não...

Mesmo assim, Lula tem minha total confiança e continua dotado da mesma simplicidade que fez o povo se ver na figura dele. Quando FHC (graça a Deus) passou a faixa presidencial pro barbudo, lá foi o nosso presidente já empossado catar os óculos do Fernando Henrique que tinha caído no chão durante a mudança. Salve a simplicidade que, acredito eu, vai salvar esse país e nós, habitantes dele.