Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, dezembro 02, 2002

O morcego e a minha cerveja

Esse causo rolou na noite de sexta-feira quando estava eu e Marquitous num bar na Asa Norte. Era quase 20h da noite, minha cabeça já nao funcionava muito bem, liguei pro Marquitous (que tava no jornal) e tb já nao batia bem na hora de encaixar idéias e escrever (o ganha pão de nosotros jornalistas). O que fazer? Ir pro bar, claro. Lá fomos nós, se não me egano, pra 410 Norte. Íamos a um bar, o Butiquim, que tava crowdiado e acabamos no bar do lado, O Novo Canoeiro... (qq dia vou fazer o apanhado dos bares qeu conheci pela cidade)

Lá pelas 23h toca o meu celular, uma ligação do Rio de Janeiro. Pensei : "é alguém fazendo alguma coisa que gosto muito querendo me zoar". Errei e errei feio. Era uma amiga minha em pânico. Um morcego tinha entrado pelo quarto dela e a menina não sabia o que fazer. Tá, muito bem. E eu, no interior do Brasil, a mais de mil quilômetros de distância ia saber, né. Se pudesse, iria até lá, baixava o cacete no morcego pra nao ficar proporcionando momentos loucos como esse quando tô desencanadamente tomando cerveja.

O diálogo foi impressionante entre eu e ela.

Ela: (chorando) Socorro. Me ajuda!
Eu todo preocupado: Peraí, como? O que aconteceu?
Ela: Entrou um morcego no meu quarto!
Eu pensando comigo mesmo: E daí?
Ela: Me ajuda. Não sei o que fazer.
Eu: Calma, é só chegar lá e tirar ele. Pronto.
Ela: Mas eu tenho pânico de morcego. Descobri agora.


Eu amo essa menina, mas uma situação dessas é demais pra minha cabeça. Então sugeri que ela ligasse pros porteiros para que alguém tirasse o quiróptero (essa palavra é feia, mas eu gosto de escrever, e daí?) de lá. Ela estava em prantos, com medo de abrir a porta e o mané do bichinho voasse pra dentro do apartamento. Dizia que nao podia ligar pq estava sem roupa e se escondeu no quarto da mãe, que ia chegar logo e obrigá-la a dormir na sala (com a possibilidade de um ataque do tal morcego). Após fazer ela lembrar que podia usar uma roupa da mãe, acertou-se que ela chamaria os nobres companheiros da portaria. Combinamos isso e se ela tivesse mais algum problema iria me ligar outra vez.

Passaram quinze minutos, fiquei curioso e liguei pra ela. O porteiro havia ido até o apartamento, aberto a porta e nada de morcego. O mané do bicho alado que tinha me surpreendido durante o cerveja já haiva vazado pela mesma janela que entrou. Pior, ainda aturei um ligeiro mau humor da 'socorrida'. "Acabei de pagar o maior mico da minha vida. Pedi ajuda aos porteiros que, quando chegaram aqui, já nao tinha mais o que fazer!", reclamou comigo, mas logo depois amainou os ânimos.

Td bem que se ela precisar, vou ajudar da mesma forma, mas espero que nenhum morcego entre pelo quarto dela àquela hora da noite. A cerveja? Ah, ela tava sobre a mesa (aqui em Brasília e não no Rio, a esses tais mais de mil quilômetros de distância), mas tomei cuidado de não deixá-la esquentar. Antes que qq ligaçao improvável viesse, tratei de virar logo o copo pra ajudar a ficar pensar melhor.