Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, abril 16, 2008

Uma terça-feira infernal

Chuva fina e um aspecto pouco animador era o que a manhã da terça-feira oferecia. A missão era rumar para o Centro. Para isso, eu tinha saio de casa pouco antes das 7h. Queria pegar o frescão, cuja passagem custa uma pequena fortuna (R$6,50), e ir curtindo momentos de sono até a parte central do Rio. Subi no ônibus e fomos pela Avenida Brasil. Após uma hora olhei pros lados e... tudo parado. A principal via da cidade, pra variar, estava parada naquela manhã. Fiquei naquele situação semi-sonolenta... olhava pros lados. Tudo parado. No fim das contas cheguei ao trabalho, coisa que me custou apenas TRÊS HORAS do meu dia.

A volta para casa teria outra opção. Viria de trem. Normal, sempre faço isso. Sai do trabalho e cheguei na Central do Brasil às 19h. A Supervia mantém telas mostrando os trens, os horários que partem e de qual plataforma saem. Vi que tinha um para Bangu às 19h13. Chegando às estação encontrei Jaílton-Neguinho, sangue-bom, firuleiro e bom malandro, disse ele que estava lá desde 18h porque não conseguia pegar sua condução pra Japeri. Dei um alô, parti pra pagar minha passagem e correr pra plataforma. Cheguei lá e NADA. Fiquei olhando aquela multidão com ar de perdida que andava pros lados sem saber o que fazer. Eu sabia, saí da estação e voltei para encontrar Jaílton-Neguinho.

Hora vai, hora vem. Os portões da Central do Brasil foram fechados, ninguém entrava. Quer dizer, o Batalhão de Choque da Polícia Militar entrou. Entraram militares com pistolas em punho, metralhadoras e escudos. Os nervos deviam estar acirrados, a chapa devia estar muito quente. Mas seria realmente necessária aquela demonstração de força no meio de uma multidão de gente que tinha passado o dia trabalhando e só tentava voltar pra casa?

Lá pelas 21h partiram os primeiros trens: Japeri e Belford Roxo. O primeiro Santa Cruz saiu às 21h10. Quase perdi, chegando à roleta (paguei a passagem de novo, claro) lembrei que tinha deixado o guarda-chuva com Jaílton. Fui lá, busquei e voltei correndo. Entrei na última porta do trem, que já se fechava. Que perrengue, a verdadeira lata de sardinha...

Todos grudados, alguns jogando sueca, muitos zoando-se uns aos outros. Viva o bom humor pra tentar chegar em casa já naquela hora. Eu pensava que tava lascado, mas que deveria ter gente pior que eu. E tinha. O magrinho do meu lado ainda resmungou que ainda ia pra casa, em Campo Grande, onde tinha que fazer comida pra galera porque sua mãe tinha viajado pra ver a irmã, em Recife. É... Campo Grande é mais distante do Centro que Bangu...

Resultado: cheguei em casa, no bagaço, já quase 22h30.