Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Ô, água, o Cóca, Ô iscou!

Uma massa humana dentro do trem que partira fazia pouco tempo da Central do Brasil rumo a Santa Cruz. Pessoas bem juntinhas, várias conversando entre si, tremendo burburinho. E lá atrás um cara vendendo água, refrigerante e cerveja e soltando o gogó com um “Ô, água, o Cóca, Ô iscou!”.

Sabido é que essa prática é proibida nos trens urbanos do Rio de Janeiro. Qualquer vendedor pego em flagrante leva um tapa na orelha e tem a mercadoria apreendida.

Passam um tempo e o sujeito-vendedor, vulgo camelô, chegou perto. Vendia amarradão. Isóu, água com ou sem e cóca. Detalhe, a água é com ou sem gás.

Parando na estação seguinte, Cascadura no caso, vem a solução para driblar os truculentos seguranças da Supervia. Ele fechava a mochila – que tinha no seu interior um saco grosso, tendo em seu anterior latinhas e garrafas plásticas – , punha nas costas e saída do vagão passando bem na frente dos caras brucutus que costumam fazer a derrama neles. Entram no outro vagão, esperam o trem sair, tiram a mochila das costas, abrem e começam a vender de novo.

Repressão, definitivamente, não funciona enquanto Deus dotar a malandragem de criatividade.