Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

domingo, setembro 25, 2005

A história do perrengue do domingo a noite ou o maior ser mane q já presenciei.

Dia desses era aniversário de Rafael Shmoo (isso mesmo, xmu), moleque criado aqui na rua. Figura gente boa, sargento do Exército que tem o estranho hobby de curtir ser o mais ogro possível. Shmoo havia chamado uma meia dúzia de três ou quatro pra passar na noite do domingo na casa dele pra comemorar seu aniversário. Ele é camarada de Irmão-Léo e, por extensão, do Vicente aqui.

Na noite desse domingo eu ia dar uma caminhada até o caixa eletrônico pra tirar um qq e poder ir trabalhar no dia seguinte. Eis que quando eu descia a rua passei pela casa de Shmoo onde o singelo grupo de maus elementos (inclusive Irmão-Léo) se encontravam. Entrei. Fiz social. Tomei umas cervejas e tal. Só q elas, as cervejas, acabaram e surgiu a iniciativa de comprar mais.

Prestativo q sou disse “aí, me leva lá no Centro de Bangu, eu tiro um dinheiro e dou uma moral no cervejal”. Shmoo topou. Irmão-Léo tb foi no bonde, no Pálio do aniversariante, que ainda levou seu filho shmoozinho, molequinho de três anos super tranqüilo, bem diferente da ‘ogritude’ paterna.

Fomos ao banco Real, bem na principal via comercial de Bangu, Avenida Cônego de Vasconcelos – aquela onde rola a passarela com esguichos de água supostamente para refrescar a população em dias de calor. Ahan.

Bem na careta do bando existe um PPC – Posto de Policiamento Comunitário – onde os papa mikes (entenda-se PMs) se encontram para o tal policiamento comunitário.

E agora vem o lide. Digo, agora vem realmente a parte q merece registro na história...

A rua que cruza a Cônego de Vasconcelos na altura do banco é a Professor Clemente Ferreira. Entramos nela cheios de disposição e um dos guardas, que estava bem na calçada em frente ao banco, grita pra gente com uma informação que não tava no esquema: “É contramão!”.

Eu e Irmão-Léo falamos pro mané q dirigia prestar atenção. Fazer a volta, sei lá.

E aí, nesse momento mágico, Shmoo tirou do bolso toda a prova que além de ogro é mané com sobra. Mas é mané com vontade, daquele tipo q abusa da qualidade, o mestre dos manés. Tão mané q deu vontade de bater.

Sem tirar as mãos do volante disse em alto e bom som: “CAGA!”. Claros que os puliça escutaram.

Não satisfeito, Shmoo manobrou o carro na frente dos papa mikes e parou. Eu vazei rapidinho na direção do banco. Fui lá, peguei meus parcos reais, mas quando voltei pro carro...

Simplesmente uma viatura da polícia havia emparelhado. Shmoo estava do lado de fora com cara de bunda. Pior! Estava descalço, nem chinelos o furingudo usava. Estava sem qualquer documento de identificação. Estava sem carteira de motorista. Estava sem documento do carro.

ESTAVA TODO ERRADO!!!

Quando Irmão-Léo contou tudo isso, confesso, não acreditei. Não acreditei q um sujeito, da mesma cor q eu e meu irmão, sairia de carro, com dois marmanjos, num domingo a noite sem qualquer documento. É óbvio! A primeira coisa que chama atenção na polícia é um carro com três ou quatro marmanjos com nosso tom de pele.

O q falar? O q argumentar com o policial? Shmoo tinha caprichado na cagada. Eu nunca tinha visto alguém fazer uma tão especial, espalhada e fedorenta. Não havia qq possibilidade de tocar o famoso ‘desenrolo’ - q pode incluir o famigerado “dinheiro do café do guarda”, coisa q não faço, ou simplesmente ir na “idéia”, na argumentação.

Shmoozinho, sentindo o ar de perrengue, começou a chorar pedir a mãe.

A essa altura, o papa mike chefe já havia contatado o reboque e comunicado, com um ar de ‘vou comer seu fígado’: “o veículo do senhor será rebocado”.

Aí, situaçãozinha deliciosa, ainda mais numa noite de domingo quando normalmente só queremos dar um relaxada.

Ligamos do meu molecular para a casa do péla-saco-Shmoo para pedir à sua esposa q levasse os papéis do indivíduo.

E aí veio a grande heroína da noite. Levou os documentos. Fez o menino parar de chorar. Deu um esporro lindo no Shmoo. Como foi bom ver o marmanjo daquele porte ser reduzido daquela forma.

Mas não foi tudo. Aí ela ainda fez o CLÁSSICO desenrolo. Foi lá, conversou com o policial e contou a história. Era aniversário do cara. Tínhamos ido pegar dinheiro pra comprar cerveja pra finalizar a comemoração e tal. Shmoo é uma anta, mas ela é esperta. Apelou pro corporativismo. Disse q poderia chamar o pai dela, que também era policial, pra conversar com ele, o puliça que havia ficado irritado – como toda razão – com a reação do meliante.

O q houve? Liberou-se a galera. Liberou-se Shmoo. Liberou-se o carro. E fomos comprar as últimas cervejas. Ufa.

Detalhe, ela só não havia contado que seu referido pai, q realmente era policial, faleceu há 16 anos. Mas usou o jogo de cintura e a inteligência pra resolver a situação, coisa q faltou ao judas do marido q virou motivo de piada da galera.