Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

segunda-feira, outubro 18, 2004

Caverna
Num desses dias úmidos e chuvosos no Centro do Rio, nem sei mais porquê, estava andando por uma das calçadas da Avenida Presidente Vargas. Ia da esquina da Rua Uruguaiana até a esquina da Rio Branco. Justo nesse pedaço da avenida os prédios foram construídos bem acima da calçada, suas entradas ficam recuadas metros e metros para trás do meio fio, enquanto verdadeiras marquises são formadas por ele. Os pedestres passam abaixo dos edifícios, nesse tipo de marquise. Eu, q não sou arquiteto e muito menos engenheiro, não sei dar uma explicação técnica ou mesmo o nome da tal obra.

Todo esse nariz-de-cera pra chegar até aqui. Nessa tal caminhada, já pelas 19h, após o horário comercial, já não existem os mesmos engravatados, os mesmos trabalhadores das lojas e escritórios q andam por ali no horário comercial. Esse pedaço vive uma mudança bem radical. As calçadas passam a ser tomadas pela população de rua, ainda mais num dia de chuva como aquele.

São dezenas de pessoas, algumas mutiladas, outras já idosas, alguns adolescentes com filhos nos colos... As pilastras, que dão apoio aos edifícios nessas tais marquises, viram verdadeiros banheiros públicos. Após certa hora o cheiro delas é insuportável de tão nojento.

Naquele exato momento, olhando pra frente, vendo aquele amontoado de seres humanos jogado no chão, alguns com cobertos e pedaços de papelão, todos vivendo naquele ambiente úmido, tive a clara impressão de estar cruzando uma caverna, um tipo de submundo bem no Centro do Rio de Janeiro. Curiosamente na frente de vários bancos que devem movimentar quantias consideráveis de dinheiro... É o Rio de Janeiro e seus antagonismos.