Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, janeiro 08, 2004

Escolas de Samba
Chega nesse período do ano e não há como não pensar nelas. Todas as vezes q passo na careta da quadra da Mocidade me pergunto como vou passar o carnaval longe da escola de Padre Miguel e das demais do Rio e Grande Rio... Algum desavisado vai falar "as escolas do Rio nao sao mais as mesmas, elas não são mais populares como eram antes!".

Eu ouço, pq todo mundo tem o direito de expressar o q pensa contando q nao ofenda o próximo. Mas da mesma forma que ouço, dou-me o direito de retrucar. As escolas de samba não são mais a mesmas, claro. Tudo evolui, tudo andou pra frente, pro lado, pra trás. Só não ficou no mesmo lugar. Acho q as escolas de samba andaram para frente, evoluíram junto com o mundo pop e capitalista onde estão inseridos. As agremiações precisam da mídia e se adaptaram a esses novos tempos. Diante disso vemos a versão pop em q chegou a Mangueira, o Salgueiro e até a minha Mocidade.

Mas as escolas de samba q conheci, na década de 80, q já eram criticadas pelos mais velhos. Mesmo assim foi a realidade q me maravilhou e continua maravilhando. Tb tenho minhas críticas, mas é delas q gosto. Foi assim q as conheci e é por esse quadro q me apaixonei. Puts, já escrevi isso em algum lugar desse blógue.

Informação
E devo muito do q sei a elas. Vendo os desfiles, acompanhando o desenrolar dos enredos, dos sambas levados para os desfiles, procurando ler e pesquisar um pouco sobre os temas que assisti no sambódromo tive acesso muita informação. Desde coisas que tinham a ver com Rio de Janeiro, com cultura negra, com curiosidades, com cultura popular e demais brasilidades. Os desfiles são um um verdadeiro rio de brilho, plumas, ritmo, paixão e informações. Nada é mais representativo da cultura popular carioca q isso. Absolutamente nada.

São mais de 70
Diz-se q as escolas são feitas para a turistada, que nao são mais do povo. Olha, num Rio de Janeiro q se propoe a ser uma cidade turística, que se propoe a ter o carnaval como uma das suas principais festividades, num Rio de Janeiro que foi a capital federal e q mesmo depois de ter deixado de ser ainda continua tendo muito de identidade nacional, como negar q gente de outras cidades, outros estado e outros países tb participem da festa? O carnaval carioca é democrático.

"Ah, mas as escolas são só pra quem tem grana. São só pra classe média e pros ricos", vai gritar alguém. Bom, as escolas de samba têm espaço pra classe média, pros ricos e pros pobres tb. Temos 74 escolas (acho eu), sendo q no máximo 20 são conhecidas. Nessas 20 conhecidas só duas são da Zona Sul (São Clemente e Acadêmicos da Rocinha), as demais são da Zona Norte, tem a Mocidade na Zona Oeste, a Viradouro em Niterói, a Grande Rio em Caxias e a Beija-flor em Nilópolis. Em todas essas escolas, boa parte da massa desfilante e gente q mora nas redondezas, nos arredores. Nao é necessariamente "gente da comunidade", mas é gente ligada geograficamente a escola.

Orgulho local
Uma enorme barato q tenho em ver a Mocidade desfilar é ver a minha parte da cidade representada. É a gente de Padre Miguel, Bangu, Realengo e Senador Camará dandos caras na avenida e mostrando q a gente tb sabe fazer samba. É ou nao é pra dar orgulho? O mesmo certamente rola com o povo da Imperatriz (q tem a galera da Zona da Leopoldina consigo) com o povo da Beija-flor (Nilópolis, Nova Iguaçu e os bairros cariocas de Ricardo de Albuquerque e Anchieta), com a Viradouro e sua galera niteroiense.

Fora as grandes escolas, as demais 50 continuam pondo seu carnaval na rua. E põem com carra e paixão à vera. São escolas esquecidas pela Riotur é só conhecidas por quem curte as escolas de samba ou por quem vive próximo a elas. Quem desfila nelas? Quem tem envolvimento, quem mora perto, quem tá ali do lado. São as escolas sem mídia, com um carnaval lembra bastante os antigos desfiles com escolas menores, com sambas mais cadenciados, com fantasias menos ricas, mas com uma vontade e um prazer de desfilar q são emocionantes.

Pô, escrevendo isso fiquei realmente na dúvida... será q vou viajar mesmo no carnaval e deixa isso tudo? Ai, ai...

Ah, vou postar essa josta. Como sempre, nao vou reler. Depois, se tiver saco vejo se tem grandes crimes contra a língua portuguesa e corrijo.