Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

quinta-feira, fevereiro 20, 2003

Paixão pelo carnaval

Eu sou apaixonado pelo carnaval pelo simples fato de ser a festa onde boa parte da cultura popular desse país mostra a cara e seu valor. Herdei o gosto por esse evento dentro de casa, por influência basicamente de D. Glória. Que, por sua vez, parece ter herdado de meu avô, Seu Roberto, que já andou pelo barracão da Acadêmicos de Santa Cruz como aderecistas nas horas vagas.

D. Glória nunca desfilou, mas adora a Mangueira da mesma forma que eu adoro a Mocidade. No caso de estar em casa, ela faz questão de acordar, na hora que for, para assistir o desfile da verde e rosa. Infelizmente, mesmo com essa paixão pelo carnaval, ela me proibiu há quase 20 anos de entrar na escolinha de mestre-sala da Mocidade. A alegação: "não quero que vc viva dentro da favela". Foi uma grande tristeza na época e que me deixou com uma verdeira frustração até os dias de hoje. Não que eu quisesse estar desfilando hoje em dia como mestre-sala 'defendendo o pavilhão da escola', mas é a parte de todas as escolas de samba que mais emociona. Eu fico babando vendo as evoluções, a proteção da porta-bandeira, os passos... Bom, D. Glória não fez por mal, só não queria que seu filho primogênito deixasse de estudar (pois é, estudei e virei jornalista. nao adiantou muito o zelo), mas continua amante do carnaval.

Uma das características da respectiva progenitora é ser uma mulher extremamente religiosa. Lá em Bng Bangu, Seu Carlos, Irmão Léo e Vicente PPS costumam dizer que a mulher é uma beata. Todo domingo, sem falta, ela vai a missa. É cheia de compromissos religiosos, inclusive como catequista. Mas é só alguém convidá-la para um retiro espiritual durante carnaval pra ver a resposta. Uma singela negativa e a explicação de que prefere aproveitar a festa a se trancar pra ficar rezando, visto que faz isso o ano inteiro. Show de bola.

Esse mês, D. Glória aprontou uma para a qual tiro o chapéu. Pegou seus alunos do catecismo e após uma aula sobre carnaval propôs, organizou e fez uma 'baile' de carnaval pra garotada, com batalha de confete e serpentina no terraço lá de casa. Com direito a marchinha de carnaval e muito samba. Não presenciei, mas depois que fiquei sabendo, morri de vontade de estar lá e vê-la procurando disseminar sua paixão pelo carnaval entre os mais novos. Espero que alguns se rendam a isso e abrace ma causa como eu.