Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

domingo, outubro 06, 2002

História de eleição

Na minha primeira eleição fui convocado pra ser presidente da seção. Essa foi minha estréia eleitoral. Era um responsabilidade muito grande pra um moleque e 18 anos, ainda mais ficar responsável por uma parada onde toda a equipe era mais velha que eu. Tudo bem, cumpri tudo a risca. Busquei urna, contei e rubriquei centenas e centenas de cédulas (eram duas: pra presidente e pra governador). Tive que preencher ata e coordenar a equipe. Até aí tudo bem, mó trabalho burocrático pentelho. Mas eis que surge um negão grande pra burro e mal encarado. Normal, negões grandes e mal encarados têm todo o direito de votar, afinal de contas somos irmão de cor. Mas sem camisa na minha seção não ia rolar. Isso é desrespeito com quem tem trabalha.

Como eu estava recebendo os títulos pra checar e tal, o negão se deparou comigo e pedi a ele que pusesse a camisa. Ah, pra quê? O personagem chegou e falou pra mim. "Vou colocar não, quem tu pensa quem é?". Pra quê? Pra que isso? Tranqüilamente e cheio de moral Vicente disse pro negão. "O senhor está falando com o presidente da seção. E se não colocar a camisa não vota e ainda vou pedir para o policiamento retirá-lo daqui". A cara de surpresa do dito eleitor foi a melhor coisa do dia. O bicho ficou surpreso e desconcertado. Eu não queria mandar essa letra, mas era isso ou perder a moral. O negão ficou pianinho e não fez graça nenhuma. Nem olhou pra minha cara na hora de ir embora. Hehe. Foi tirar onda e perdeu feio.