Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

terça-feira, março 30, 2010

Há alguns dias postei esse texto no fórum de samba que participo. Alguns amigos entenderam o tom, outros nem tanto. Como esse aqui é meu espaço de fato, resolvi postar o que escrevi a título de registro.

Em tempo, sigo realmente tentando a me licenciar da escola de samba.



Algo que preciso dizer sobre patrocínio e Mocidade


Quando eu era criança a Mocidade Independente era sinônimo de inovação. Abracei a escola, ainda com Fernando Pinto como carnavalesco, alguém que criticava de forma inteligente, que apostava, que arriscava. Pouco depois aprendi, ainda criança, que havia também a bateria de Mestre André, que arriscava um bocado, que inovava, que experimentava, que criava. Veio, por exemplo, Chico Spinoza, que teve coragem de propor enredos cidadãos. Outra aposta corajosa. Que outra escola teria liberdade poética pra fazer isso? E olha que nem falei em Renato Lage.

Mesmo associada pela maioria a um contraventor, a Mocidade sempre foi no meu imaginário uma escola que olhava pra frente, que inovava mantendo seus valores... Uma escola progressista, até arrisco a dizer.

Mas nesse pré-Carnaval 2011 algo me incomoda. E incomoda muito, muitíssimo. Essa mesma escola vem com a história de um patrocínio...

E daí?

E daí que essa ação seria capitaneada pela Confederação Nacional da Agricultura.

Quem?

Aquela associação composta pelos grandes latifundiários desse país, por um setor que, sim, aposta na tecnologia, no crescimento e desenvolvimento, mas ignora o humano, o social, as pessoas. Que de encontro com algo que entendemos ser essencial para a Justiça Social no Brasil, a reforma agrária. São tão contrários que sua bancada trabalha sempre pra evitar que isso aconteça. É um grupo que representa o que existe de mais conservador politicamente nesse país. Alguém que no meu imaginário é indentificado como vilão do Brasil.

E agora? O que fazer com meu amor pela minha escola? O que fazer com meu orgulho pela coragem e pela inovação já que ela se associou toda felizinha com o que há de mais retrógrado no campo político e social desse Brasilzão de meu Deus?

Confesso que penso seriamente em me licenciar de ser independente em 2011. Confesso que conceitualmente me sinto desconfortável com essa aproximação. Confesso com todas as letras que estou decepcionado com o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel.