Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sexta-feira, março 20, 2009

A noite de quarta

Minha paixão pelo Clube de Regatas Flamengo não é novidade. Quem me conhece, trabalha comigo, estudou, lê o blógue ou simplesmente convive tem a exata noção de como gosto daquela instituição clubística. E quarta-feira foi dia, mais uma vez, de dar vazão a essa emoção. Era dia de jogo de basquete pelo Campeonato Brasileiro do esporte. A última vez que tinha ido a uma partida do Maracanãzinho foi justamente na final do ano passado, contra o Brasília. Vitória do Mais Querido.

Voltando à quarta-feira, o jogo começava às 19h, para chegar lá deixei o trabalho, na Candelária, perto das 18h. Teoricamente daria tempo, a distância nem é tanta. Qual caminho tomar? Um ônibus rapidinho da Candelária até a Central do Brasil, evitando a engarrafada Presidente Vargas e seguindo por sua paralela, a Avenida Marechal Floriano.

A Supervia é um cocô
O primeiro estágio deu certo. O próximo passo seria tomar um trenzinho na Central, passar pela estação Praça da Bandeira, São Cristóvão e descer com tranquilidade na Maracanã. Ah, seria tão bom se a Supervia respeitasse aqueles enchem seus cofres. A dinâmica de passar pelas roletas com seus vales-transporte eletrônicos (como eu tenho) é pífia. O indivíduo chega na gare, é mal orientado (ou não orientado) entra em um mafuá pra chegar até as roletas, acotovelando-se, por metros e metros à frente quando percebe que a fila onde está vai se afunilar com a fila ao lado. Ô, que delícia. Ainda mais quando se está com pressa. Segurança? A empresa responsável por explorar o serviço desse transporte no Rio de Janeiro desconhece por completo essa preocupação. No fim das contas, consegui passar a roleta praticamente às 19h.

Ok, já dentro da gare nem tudo parece tão complicado. Peguei um trem para Campo Grande, desci na terceira estação e dei aquela caminhada apressada rumo ao Maracanãzinho. Cheguei ao ginásio já com 20 minutos de partida.

Caríssimo Globo
Sentei sob o friozinho que descia do ar-condicionado. Comprei um caríssimo biscoito Globo que gostou, de bobeira, R$3. Veja bem, um biscoito Globo custando trerreal é pra arregaçar o bolso do trabalhador. Mas como o camelô que me vendeu a iguaria carioca falou, “jogo de basquete do Flamengo no meio da semana é uma higiene mental”. Ô, e como é! Flamengo 100 x Araraquara 83. Mais uma vitória do Mengão que segue em terceiro lugar nesse Brasileirão de bola ao cesto.

Às 20h50 a partida já estava encerrada, a missão cumprida, jogo vencido, pegava eu o caminho da rua quando olho para o lado e encontro Ruy. Hein? Ruy é irmão de uma grande e sumida amiga, Patrícia. Mas até onde sei Ruy era torcedor do Bangu (sim, eles existem!) e do clube da colina. O que faria ele ali, vendo um improvável jogo de basquete do Flamengo?

“Entrei aqui porque está tudo alagado lá fora”, disse ele. Hahaha. Obrigado, Ruy. Já com as luzes do ginásio se apagando fomos caminhando pro lado de fora. A rua ainda coberta por muita água, o trânsito em velocidade lentíssima e uma chuva caindo. Após mais alguma conversa saí de lá, encarei a chuva e parti na direção da estação Maracanã do metrô.

Um breve ser mané é
Pulei poças, subi em parapeitos pra não entrar no meio da água. Tomei o metrô do Maracanã pro Estádio pra fazer a baldeação. Já no Estácio, corri pra plataforma da Linha 1 pra tomar o trem subterrâneo na direção de Botafogo. Entrei, sentei, puxei meu livro, senti uma série de olhares curiosos pra cima de mim, só aí saquei que usava uma roupa de trabalho (calça, sapatos e camisa abotoadinha pra dentro da calça) e uma camisa vermelha e preta do basquete rubro-negro. Melhor, quando olhei pra ver em qual estação estava li “Afonso Pena”. Ahn? Eu tinha pego o metrô do lado errado. Ia na direção da Tijuca e não de Botafogo!

Ok, desci, troquei de lado na estação, tomei o metrô certo e fui pra casa. O jogo acabou antes das 21h e cheguei em casa quase 23h. O tempo normal seria algo perto de 40 ou 50 minutos. Mas tudo bem, uma simples prova de amor à instituição clubística rubro-negra e uma noite de, como disse o camelô, “higiene mental”.

terça-feira, março 03, 2009

Domingo foi aniversário do Rio, a santa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro completou seus 444 anos. O que fazer para comemorar? Ir à praia para aproveitar o lindo dia ensolarado e céu naquele tranqüilo e limpo azul.

Não estava só, minha senhora me acompanhava naquele bom momento dominical. A hora avançava e nada mais justo para o estômago que comer algo pra acalmar o estômago que começava ficar incomodado. Passaram alguns camelôs e o do queijo coalha de aproximou. Pôs seu forninho de alumínio na areia, disse quanto custaria dois pedaços de queijo assados “R$2 ou dois por R$5. Quer com orégano ou sem orégano?”. Carinho, mas pedi assim mesmo.

Passou outro camelô, encostou nele. Conversaram enquanto os queijos eram assados. Queijos prontos, o outro camelô seguiu seu caminho pela areia. Mas aquele que nos vendia os queijos se virou pra gente e falou coisas que me pareceram fortes, meio emblemáticas: “A gente tem um filho e para pra pensar... dar um livro, dar um caderno... A gente sai da parada errada pra fazer o melhor”.

É... do alto do meu otimismo voltei a ter na cabeça que nem tudo está perdido. Era um depoimento solto, ali nas areia da praia, sob um sol cruel de tão quente, mas que me vez avivar minha crença que o ser humano tem gente, que nem todo mundo é fura-olho.
Hoje é aniversário do Zicão. Parabéns aê pelos 56 anos.
Um ceguinho na rua

Outro dia, de manhã bem cedo, voltava eu da academia. Chegando à esquina da minha rua um ceguinho estava com sua bengala batendo nos canteiros, procurando um caminho sem obstáculos. Achei que seria oportuno perguntar se queria ajuda para atravessar a rua. Falei com ele de auxiliá-lo a atravessar a via até pela faixa de pedestres e tal.

Dispus o braço esquerdo pra que segurasse e eu guiasse sua caminhada. Ele disse que ia até o metrô, mas eu ficaria ali mesmo pela esquina, ainda iria pra casa tomar banho e tal. Pudera, estava suado, recém saído da academia. E, para minha surpresa, além de ceguinho o sujeito também era pidão.

- O senhor não pode me ajudar com dois reais pra eu poder pegar o metrô?, disse ele.

Como estava sem carteira, não havia perigo de sacar uma notinha azul e entregar a ele. Será que o ceguinho não sentiu o cheio do suor do mané aqui? Eu, hein. É a velha história de que você dá a mão e o sujeito pede o braço. Ah, ceguinho....