Preto, pobre e suburbano

Esse aqui é o cotidiano de um simples jornalista carioca que mora e circula pra cima e pra baixo na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Mas acaba sempre voltando pra a base, em Bangu - terra onde só os fortes sobrevivem pq é longe pra burro e tem que ter saco pra aturar as idas e vindas...

sábado, julho 26, 2008

Não sei se esse pôste pode ser enquadrado na série "ser mané é", mas rolou assim:

Dia de jogo no Maracanã e lá estava eu de carro. O carro não era meu, mas e daí? Eu era quem entrava no estacionamento com ele. Pus num prédio que pertence à, digamos, empresa em que trabalho. O normal é chegar, mostrar o crachá ao sangue bom da segurança que anota a matrícula, pega o número do celular e pronto. Após o jogo, basta mostrar o crachá pra entrar de novo e catar o carro.

Vicente voltava, mostrou o crachá e o segurança, que não era o mesmo de quadno cheguei, empacou. "Pode mostrar seu crachá outra vez?". Hahahahah. Peguei e mostrei ao camarada já dizendo "só não vale tu dizer que não sou eu na foto". Naquela hora eu estava com uma faixa vermelha juntando os dreadinhos e na foto que ele tinha na mão, era um sujeito de cabelo curtinho. O cara olhou com aquela atenção pra foto do crachá, olhou pra mim de novo rindo e liberou.

Sinceramente? A foto tem nada a ver com o Vicente. Tudo bem que é a galera que produz esses crachás deveriam ser chamados de fábrica de montrinhos, mas eu realmente tenho nada a ver com o sujeito da foto. Vale dizer que atualizei o crachá durante essa semana. Só que, na foto, tô de cabelo curtinho. Hehe.

segunda-feira, julho 21, 2008

O dia (ou a noite) em que ia faltar cerveja na favela

Violência urbana, azar, sorte e cerveja nessa história que me foi contada em primeira pessoa por um amigo, o folclórico Minduím.

Noite de semana. Ele voltava de viagem a trabalho e havia deixado seu carro na casa da irmã, ali perto do Centro. Saiu do aeroporto, buscou o veículo e partiu para Bangu. Já na Avenida Brasil, a maior via carioca, sentiu que o carro puxava para um dos lados e desconfiou: pneu furado. Ele é folclórico, mas não é maluco. Parou em um borracheiro para fazer o reparo e retomar o caminho em segurança.

O borracheiro ficava na entrada de uma das mais de dez favelas ali pelo Complexo da Maré, que margeia da avenida. Serviço feito, já dentro do carro para sair, hora do primeiro susto. Dois caras o renderam. Minduím se preocupou, voltava de trabalho, tinha informações importantes em um ‘pen-drive’ guardados no interior do veículo, fora notebook, pé-de-pato (ele nada fazendo travessias e tal). Tentou o desenrolo quando sofria o ganho, tentou conseguir seus arquivos de volta, mas o que conseguiu foi um botadão no rosto.

Os caras vazaram. Levaram o carro pela avenida à frente. Minduba (é um apelido a partir do apelido mesmo), ainda bolado, viu um carro da polícia militar e acenou. Pediu ajuda. Foi na viatura até um Posto de Policiamento Comunitário, também na beira da via, mas alguns quilômetros à frente. Falou pro “papa mike” de plantão o que tinha acontecido. Para sua surpresa, o tal “mike” avisou que sabia onde estava o carro: dentro da favela.

Ali em cima eu disse que Minduím era folclórico e não maluco. Corrijo. Ele é folclórico e maluco! Há poucos anos o camarada trabalhava na Ambev, era o fornecedor dos bares, botecos e similares da localidade, ou seja, era o cara que levava a cerveja pra comunidade. Apostou na capacidade do seu caô em recuperar o seu “pen-drive”. Foi lá na rua principal da comunidade, entrou num bar dum sujeito que o conhecia e pediu uma cerveja. Após algumas garrafas, já ambientado (ou seja, ligeiramente bêbado), mas ainda assustado, chorou e relatou a desventura ao dono do bar. Haviam levado seu carro com coisas importantes dentro.

O comerciante se condoeu. Já era tarde, mas o dono do bar pegou o telefone e ligou pra um sobrinho. Minduba não lembrava a hora, diz ele que já estava com a consciência devidamente enxaguada. E devia mesmo, porque seguia lá, atrás do que havia sido roubado. O sobrinho chegou e foi direto ao tio perguntar o porquê de tê-lo feito sair de casa naquela hora. O dono do boteco deixou claro o tamanho da crise: “vai faltar cerveja na favela!”. Não houve argumentação por parte do sobrinho. A situação era mesmo grave. Minduím retrucou dizendo que tinha deixado a Ambev? É ruim, hein.

O motivo do sobrinho ter sido convocado: tinha uma moto, sabia andar pela favela e por onde andava “o hômi”. Quem? O chefe da parada, o homem que mandava no movimento, no famigerado comércio ilegal de entorpecentes no local. Logo foi informado sobre a missão, questionou o tio, mas como a favela ia ficar ser cerveja? Saiu mais um tempo do bar deixou Minduba lá, enchendo o pote.

Voltou e partiram em busca do carro favela à dentro. O sobrinho pilotando e Minduím atrás, na garupa. Foram percorrendo ruas e vielas até chegar ao lugar onde estava o carro. A Pálio já estava no chão, já depenadinha. O sobrinho explicou o que acontecia e partiu um sujeito pra buscar o cara, digo, "o hômi". Esses caras geralmente não são encontrados nas favelas, eles que te encontram. Após instantes, contou Minduba, chegou “o hômi”. Fuzil cruzado nas costas e camisa da Torcida Jovem do Flamengo. Na hora em que contava, o amigo folclórico e maluco olhou pra mim e fez aquela cara de ironia ao dar o detalhe. Haha. Eu e ele costumamos ver os jogos na referida torcida do Flamengo, identificada maldosamente por muita gente como composta pessoas de má índole. Vejo bastante preconceito, até mesmo de flamenguistas nisso, mas... o pôste é sobre outra coisa...

O sobrinho deu logo o tamanho do problema. “Roubaram o carro do sujeito aqui. É o cara que traz a cerveja. Vai faltar cerveja na favela!”. Pois é, a essa hora já era verdade que ia faltar, quem ia acreditar que não ia? “O hômi” perguntou a Minduba quem tinha metido o carro. Ele apontou. O sobrinho contou que esculacharam meu amigo. “O hômi”, então, perguntou qual deles foi. Minduím apontou o malandro. Ah, aí a parada esquentou. O chefe do movimentou ordendou: “vai lá e dá na cara dele”. Meu amigo se negou. Se negou e ainda levou esporro: “tu não é homem? Vai lá e devolve o soco que tu levou”. É, né. A argumentação foi forte. Minduba, que já foi lutador e ainda é bem marrentinho, foi lá meio que forçado, meio que tremendo sobre as pernas e soltou o botadão nos cornos do sujeito.

A ordem era remontar o carro, recuperar os bens que estavam lá dentro na hora do roubo. “O hômi” perguntava o que estava lá, Minduba enumerava: notebook, pé-de-pato, “pen-drive”... Pen o quê? Lá foi ele explicar o que era aquilo. Justamente o menor dentre os objetos e o mais importante naquela hora. O carro foi sendo remontado, tudo foi sendo devolvido, até mesmo o notebook que já tava sendo usado por um dos camaradas ali na área do desmanche. “Cadê o pé-de-pato?”, perguntou o chefe? “Já botamos pra frente”, respondeu um dos caras. “O hômi” se virou pro Minduím e falou “vai lá, se adianta. Volta amanhã pra buscar teu pé-de-pato”.

Minduba, ainda mais folclórico, mas menos bêbado, pegou suas coisas, pegou seu carro e partiu. Tu voltou pra pegar o par de pés-de-pato? Nem ele.

terça-feira, julho 15, 2008

O Flu perdeu a final da Libertadores e, não posso negar, gostei. Gostei por um simples e baixo prazer revanchista em ver muitos daqueles que impregnaram a minha paciência com o rabinho entre as pernas. Mas antes da final, uma experiência bem peculiar aconteceu, levei Dona Glória pela primeira vez ao Maracanã para ver um jogo do seu time. Não, não foi na final que, diga-se de passagem, caiu justamente no dia do aniversário de Seu Carlos, discreto torcedor do América. Consegui comprar ingressos para irmos ver a semifinal conta o Boca Juniors. Fomos Dona Gloria, Seu Carlos, o bom baiano e amigo Iuri e eu.

Ficamos nas cadeiras azuis, atrás do gol que fica do lado direito das tribunas. Dona Glória se encantou com a festa da sua torcida, ficou impressionada com o anel tomado pelos adeptos do clube das Laranjeiras. Foi uma festa realmente bonita. Eu e Iuri torcíamos pelo Boca, eu, inclusive, vestia uma camisa do Boca por baixo da roupa do trabalho. Minha vontade era estar na arquibancada junto com os argentinos. Despeito? Não, admiração. Desde que fui a um jogo na Bombonera fiquei encantado com a torcida, a paixão dos caras. E eles estavma ali, no mesmo estádio Mário Filho, mas... minha responsabilidade era maior.

Babei de vontade em estar com “La 12”, mas... a missão era outra. Era estar com Dona Glória na sua estréia no Maracanã. A sensação era dúbia. Queria que o Boca ganhasse, mas queria muito que a primeira experiência de torcedora de Dona Glória assistindo a um jogo de futebol do seu time ali, naquele lugar mágico, fosse perfeita.

Segundo tempo, gol do Palermo. Não pude comemorar. Mas olhei com um prazer sádico para as caras preocupados dos torcedores tricolores. Mas, logo após isso, veio a virada tricolor. 3 a 1 sobre os argentinos, vitória com moral e merecimento. Foi bonito, fez com que a torcida se inflamasse e se emocionasse. E, no meio dela, Dona Glória feliz como uma criança. A cada gol, ela abraçava Seu Carlos e a mim. Pulava e gritava “Nense!”. Foi bonito, foi emocionante, foi uma enorme sensação de ter feito a coisa certa. Valeu, Flu.

terça-feira, julho 08, 2008

Faltou dizer que a versão 3.2 tem dreadlocks pendurados na cabeça.
Elogio na revista

Sábado foi dia de jogo, compromisso cívico no Maracanã, dia de ver o Flamengo jogar. Como era de se esperar, fui. Estava com camisa e mochila, ali, no alto da rampa do Bellini a revista feita pelos policias é inevitável. Não posso reclamar, não acho que seja ruim, é para a segurança de todos os sujeitos que ali estão. Normalmente levando a camisa, tenho o bolsos checados pra verem se carrego alguma arma ou algo que possa ser usado como arma e tal. A mochila tem que ser aberta e os Papa Mikes olham pra ver se existe algo que pode se enquadrado como suspeito. E aí, experiência nova no Maraca: abri a bolsa, mostrei ao policial que ali dentro existiam dois livros e mais um camisa (também do Fla). O policial olhou com alguma incredulidade pra dentro dela, mirou o Vicente e soltou a frase que me deixou absolutamente surpreso: “Parabéns pelo livro!”. HEIN?!!

Eu mesmo havia esquecido e olhei pra dentro da mochila pra confirmar. Era “O Romance da Pedra do Reino”, do Ariano Suassuna que estou começando a ler. O policial viu, identificou e elogiou. Há! Não sei exatamente porquê, mas fiquei meio bobo com a situação, ao menos naquele momento, inusitada e fiquei com uma sensação - que ainda não consegui explicar a mim mesmo - de que nem tudo está perdido.

Ah, o Mais Querido ganhou, claro.
Aniversário 32

Domingão foi aniversário do sujeito que mantém o blógue. Versão 3.2. Sinixtro... Nunca imaginei que teria uma idade dessas e já estou com ela. E a vida segue.